Nem só de grandes
nomes da axé music é que vive o Carnaval de Salvador. Resistência, protestos
políticos, combate ao racismo, representatividade da mulher, batuque dos
tambores e o colorido das fantasias marcam o tom dos blocos afros que há pelo
menos 40 anos trazem uma perspectiva diferente para os foliões de Salvador.
De acordo com o
governo do Estado, a edição de 2018 do Carnaval "Ouro Negro" irá
contemplar 91 agremiações de matrizes dos povos africanos e tradicionais,
subdivididos nas categorias afro, afoxé, samba, reggae e índio. Os blocos
desfilam nos circuitos Batatinha (Pelourinho), Osmar (Campo Grande) e Dodô
(Barra-Ondina).
Entre os
representantes da categoria afro, estão os já consagrados Olodum e o Ilê Aiyê,
também participam o Cortejo Afro, Muzenza, Malê Debalê, Mangangá e Bankoma,
além de entidades de pequeno e médio porte que possuem em suas comunidades
trabalhos sociais que tem no carnaval o seu ápice, como Didá, Tambores e Cores,
Swing do Pelô, Okanbi, entre diversos outros.
O segmento afoxé será
representado por agremiações como os Filhos de Gandhy, as Filhas de Gandhy,
Bahia em Cena e Filhos do Congo.
Um dos principais
blocos afros do Brasil, o Ilê Aiyê, fundado em 1974, surgiu para combater o
racismo, já que a representatividade negra era segundo plano nos grandes
blocos. O bloco foi referência para formação de agremiações como o Malê Debalê
(1979), Olodum (1979), Muzenza (1981), Cortejo Afro (1998), Bankoma (2000),
entre outros.
Tema
O bloco aproveita a
festa momesca para temas relevantes para a cultura negra. Dessa vez, o
homenageado será o mais importante líder da África Negra e vencedor do Prêmio
Nobel da Paz de 1993, Nelson Mandela, com o tema "Mandela. A Azânia
celebra o centenário de seu Madiba". "Não se trata de um homem
normal. Mandela é uma instituição que merece ser celebrada diariamente",
destaca Antônio Carlos Vovô, presidente do Ilê.
De acordo com Vovô, o
trabalho que Mandela desenvolveu segue em concordância com o objetivo do grupo.
"Seu trabalho é de fundamental importância para o Ilê Aiyê que, desde a
sua fundação, tem como objetivo narrar histórias do povo negro, para que
através da consciência e educação conheçamos a nossa verdadeira história",
conta Vovô.
Revolução
"O tambor é uma
tecnologia de mudança, pois usamos ele para nos tornamos visíveis", com um
discurso forte e empoderado, o bloco afro Didá, vem há quase duas décadas
levando a voz da mulher negra para Avenida. Fundado em 1993, a Banda Didá
presta homenagem a orixá Nanã.
“Nós nos sentimos
honradas por ter sido protagonistas do empoderamento negro feminino. E
entendemos que no sentido social, temos a responsabilidade de ir para a Avenida
apresentando estes discursos”, é o que garante a diretora de projetos e
percussionista da Didá, Vivian Queiroz.
Liderada e
protagonizada por mulheres, o grupo conta com cerca de 4 mil mulheres e
crianças. O bloco traz como tema para 2018, "Abayomi, nós de fé, coragem,
proteção". Abayomi simboliza representação e esperança para as mulheres
negras. "Estamos rasgando um vestido social e estabelecendo a nossa
presença, que não foi um convite, foi uma solicitação nossa, de tomar
conquistar o espaço", garante Vivian.
Além das tradicionais
baianas, o cortejo também terá a participação das rezadeiras. Para fortalecer
ainda mais o discurso feminino, a major Denice Santiago, a ex-delegada
Valquíria Barbosa, a major Ana Fausta de Assis e a promotora de Justiça Lívia
Santana Vaz, vão compor uma ala. O Bloco desfila na sexta e o sábado de
Carnaval, com concentração no Campo Grande.
Tradição
Com o tema "Do
Cais do Porto para o Mundo", o mais antigo e tradicional afoxé do Brasil,
o Filhos de Gandhy, promete aos foliões três dias emocionantes de desfile. No
domingo, o bloco se apresenta no circuito Osmar.
Na segunda, na Barra,
e na terça, retorna ao circuito Osmar para fechar sua participação na folia.
Entre as novidades para 2018, o bloco apresenta o lançamento do infantil Meu
Gandhynho, que vai desfilar no dia 10, no sábado, na Barra, com Carlinhos Brown
no comando da festa infantil.
Fundado em fevereiro
de 1949 por estivadores portuários de Salvador, os Filhos de Gandhy arrastam o
famoso "tapete branco" na avenida e traz mensagens de paz, inspirado
no líder indiano Mahatma Gandhi. Com lençóis e toalhas brancos como fantasia,
para simbolizar as vestes indianas, o bloco mantém a tradição da religião
africana ritmada pelo agogô nos seus cânticos de ijexá na língua Iorubá.
Criado no lado
contrário da cidade, o Malê Debalê foi fundado em 1979 por um grupo de
moradores de Itapuã. O nome do grupo faz referência à população descendente dos
Malês, além de fazer referência aos combatentes que lutaram na Revolta dos
Malês, que ocorreu em 1835 na capital baiana.
Esse ano, os
"Negros Malê", como são conhecidos o rei e a rainha são Lucas Pissay,
23 anos, e Viviane Lopes, 27. Outro tradicional bloco afro que participa dos da
festa de Momo, é o bloco Muzenza. Com 37 anos de história, o bloco promete
apresentar os ritmos africanos nas ruas do Campo Grande e Pelourinho. O bloco
deve levar cerca de mil artistas divididos em seis alas, dentre dançarinos,
capoeiristas e baianas no desfile. ( A TARDE)
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