Princesa Isabel"
redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Princesa Isabel
(desambiguação).
Isabel (Rio de
Janeiro, 29 de julho de 1846 – Eu, 14 de novembro de 1921), apelidada de
"a Redentora", foi a segunda filha, a primeira menina, do imperador
Pedro II do Brasil e sua esposa a imperatriz Teresa Cristina das Duas Sicílias.
Como a herdeira presuntiva do Império do Brasil, ela recebeu o título de
Princesa Imperial.
A morte de seus dois
irmãos homens a fez a herdeira de Pedro. A própria personalidade de Isabel a
distanciou da política e de quaisquer confrontos com seu pai, ficando
satisfeita com uma vida calma e doméstica. Além disso, apesar da sua educação
ter sido bem ampla, ela jamais foi preparada para assumir o trono. Isabel se
casou em 1864 com o príncipe francês Gastão, Conde d'Eu, com quem teve três
filhos: Pedro de Alcântara, Luís e Antônio.
A princesa serviu
três vezes como regente do império enquanto seu pai viajava pelo exterior.
Isabel promoveu a abolição da escravidão durante sua terceira e última regência
e acabou assinando a Lei Áurea em 1888. Apesar da ação ter se mostrado
amplamente popular, houve forte oposição contra sua sucessão ao trono. O fato
de ser mulher, seu forte catolicismo e casamento com um estrangeiro foram
vistos como impedimentos contra ela, juntamente com a emancipação dos escravos,
que gerou descontentamento entre ricos fazendeiros. A monarquia brasileira foi
abolida em 1889 e ela e sua família foram exilados por um golpe militar. Isabel
passou seus últimos trinta anos de vida vivendo calmamente na França. Isabel nasceu às 18h30min do dia 29 de
julho de 1846 no Paço da São Cristóvão, Rio de Janeiro, Império do Brasil.[2]
Era a segunda filha, a primeira menina, do imperador D. Pedro II e sua esposa a
imperatriz D. Teresa Cristina das Duas Sicílias.[3] Ela foi batizada em 15 de
novembro durante uma elaborada cerimônia na Igreja de Nossa Senhora da Glória
do Outeiro.[4][5] Seus padrinhos foram seu tio paterno o rei D. Fernando II de
Portugal e sua avó materna a infanta Maria Isabel da Espanha.[5][6][7] Ela foi
oficialmente batizada como Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela
Rafaela Gonzaga, com seus últimos quatro nomes sempre tendo sido dados para as
mulheres da família, e os nomes Isabel e Cristina sendo dados em homenagem a
sua avó materna e sua mãe, respectivamente.[6]
Através de seu pai
ela pertencia ao ramo brasileiro da Casa de Bragança, sendo referida desde seu
nascimento com o prefixo honorífico de "Dona".[8][9] Isabel era neta
do imperador D. Pedro I do Brasil (que também brevemente reinou Portugal e
Algarves em 1836 como rei Pedro IV) e sobrinha da rainha D. Maria II de
Portugal, esposa de Fernando II.[10] Por sua mãe também era neta do rei
Francisco I das Duas Sicílias e sobrinha do rei Fernando II das Duas
Sicílias.[11]
Ao nascer, a princesa
tinha um irmão mais velho chamado D. Afonso Pedro, que era o herdeiro aparente
do trono brasileiro.[12][13][14] Seguiram-se outros dois irmãos: D. Leopoldina
em 1847 e D. Pedro Afonso em 1848.[12][13][15] A morte de Afonso Pedro em 1847
com apenas dois anos e meio fez com que Isabel se tornasse a herdeira
presuntiva de seu pai.[13][16] Ela brevemente perdeu o posto com o nascimento
de Pedro Afonso. A morte deste em 1850 deixou Isabel definitivamente como a
herdeira do imperador e lhe fez receber o título de Princesa Imperial, o título
normalmente dado para o primeiro na linha de sucessão.[17][18] O início de vida
de Isabel foi um período de paz e prosperidade no Brasil. Seus pais lhe deram
um crescimento feliz e saudável. Ela e Leopoldina "cresceram em um
ambiente seguro e estável dramaticamente diferente daquele que seu pai e tias
tinham conhecido, e anos-luz longe do caos da infância de Pedro I".[19]
Herdeira[editar |
editar código-fonte]
Isabel em 1858.
A morte de ambos os
seus filhos homens em uma idade tão jovem teve um enorme impacto em Pedro. Além
de sua dor pessoal, a perda dos filhos afetou sua conduta como monarca e
acabaria por décadas depois afetar o destino do Brasil. A morte dos filhos
parecia aos olhos do imperador prever o eventual fim do sistema imperial. O
futuro da monarquia como instituição não mais o preocupava, com ele cada vez
mais durante o restante da vida vendo sua posição como nada além do que um
Chefe de Estado.[20]
As palavras de Pedro
revelavam sua convicção interna. Ele escreveu ao saber sobre a morte de seu
filho Pedro Afonso: "Este tem sido o golpe mais fatal que eu poderia
receber, e certamente eu não teria sobrevivido não fosse que ainda tenho uma
esposa e duas crianças quem eu preciso educar para que elas possam garantir a
felicidade do país em que nasceram".[21][22][23] Sete anos depois em 1857,
quando estava mais do que claro que ele e Teresa Cristina não teriam mais
filhos, o imperador escreveu: "Quanto à educação só direi que o caráter de
quaisquer das princesas deve ser formado tal como convém a senhoras que talvez
poderão ter que dirigir o governo constitucional de um império como o
Brasil".[22][24]
Apesar de legalmente
Pedro ainda ter uma sucessora em Isabel, a sociedade da época dominada por
homens lhe deixou com poucas esperanças de que uma mulher pudesse governar o
país. Ele gostava e era respeitoso com as mulheres de sua vida, porém não
considerava possível que a filha conseguisse sobreviver como monarca dadas as realidades
políticas.[25] Para o historiador Roderick J. Barman, o imperador "não
conseguia conceber mulheres, suas filhas inclusas, tendo qualquer papel no
governo [...] Consequentemente, apesar de valorizar D. Isabel como sua filha,
ele simplesmente não podia aceitar ou vê-la em fria realidade como sua
sucessora ou como um governante viável". A principal razão disso era a
atitude com o gênero feminino. "Pedro II acreditava, como a maioria dos
homens de seu tempo", escreveu Barman, "que uma única mulher não
poderia lidar com os problemas de vida por conta própria, mesmo que ela
possuísse os poderes e autoridade de uma imperatriz".[26]
Educação[editar |
editar código-fonte]
Leopoldina e Isabel
em 1855.
Isabel começou sua
educação em 1 de maio de 1854 quando foi ensinada a ler e escrever em português
por um professor homem, que também era um republicano confesso.[22][27][28] As
tradições da corte portuguesa e depois brasileira exigiam que o herdeiro do
trono tivesse um aio (supervisor, tutor ou governante) que ficaria encarregado
da educação a partir dos sete anos de idade.[29] Luísa Margarida de Barros,
Condessa de Barral, filha de um nobre brasileiro e esposa de um nobre francês,
foi eventualmente escolhida por Pedro depois de uma longa procura.[24][30] Ela oficialmente
assumiu sua posição em 9 de setembro de 1856, quando Isabel tinha dez anos de
idade.[31][32][33] Barral tinha então quarenta anos de idade e era uma mulher
charmosa e vivaz que logo conquistou o coração da princesa, tornando-se uma
espécie de modelo para a jovem menina.[34][35]
Nas palavras do
próprio Pedro, a educação de suas duas filhas "não deve diferir da que se
dá aos homens, combinada com [o que convém] a do outro sexo: mas de modo que
não sofra a primeira".[22][24][36] Ele "deu às filhas uma educação
ampla, democrática e rigorosa, através tanto do currículo quanto dos
professores que o ensinavam".[37] Isabel e Leopoldina estudavam por mais
de nove horas e meia por dia e durante seis dias por semana.[38] Os assuntos
estudados incluíam literaturas portuguesa e francesa, astronomia, química, a
história de Portugal, Inglaterra e França, desenho, dança, piano, economia
política, geografia, geologia e a história da filosofia.[38][39] Quando adulta,
além de seu nativo português, Isabel também era fluente em francês, inglês e
alemão.[40]
Dentre seus
professores estavam alguns que tinham ensinado seu pai quando criança, além do
próprio Pedro, que dava aulas de latim, geometria e astronomia.[41][42]
Entretanto, a educação dada a Isabel mostrou-se deficiente. Tudo que ela
assimilava eram ideias abstratas que não lhe ensinaram "como integrá-las
com a aplicação prática".[43] Seus professores e parentes não a prepararam
para governar o Brasil ou entender suas questões sociais e políticas. Um modo
de prepará-la para seu futuro papel de imperatriz "teria dado a ela desde
cedo a experiência pessoal das tarefas que enfrentaria e relacioná-las com o
que ela estava aprendendo na sala de aula".[44] Isso não ocorreu e Pedro
"não lhe mostrava documentos de estado. Ele não discutia política com ela.
Ele não a levava consigo em suas constantes visitas aos escritórios
governamentais. Ele não a incluíu no despacho, as reuniões semanais com membros
do gabinete, nem permitiu que ela comparecesse a audiências públicas que
ocorriam duas vezes por semana".[45][46] Isabel podia ser oficialmente a
herdeira do trono, "porém por seu tratamento com ela, Pedro II lhe tirou a
honra de qualquer significado".[45]
Crescimento[editar |
editar código-fonte]
Vida doméstica[editar
| editar código-fonte]
O comportamento de
Pedro como pai era completamente diferente de seu como imperador. Um
"homem notável por seu auto-controle, estava no seu mais carinhoso e mais
extrovertido com as crianças, acima de tudo suas filhas". Isabel e
Leopoldina, "que amo extremosamente" como ele escreveu em 1861 em seu
diário,[47] tanto o amavam quanto o admiravam. O imperador "era um pai
rígido que exigia obediência",[48] porém ao mesmo tempo era bondoso e
preocupado com as filhas.[47] Entretanto, ele "achava difícil senão
impossível" desenvolver alguma intimidade com Isabel ou "com qualquer
outro membro de sua família".[49]
Leopoldina, Pedro,
Teresa Cristina e Isabel c. 1863.
Isabel, durante seu
crescimento, "assimilou de seus professores a obediência às regras
tradicionais. Ela aceitava que as mulheres fossem dependentes e obedientes, e
de fato o comportamento de sua mãe e de sua governanta não indicavam o
contrário". Ela "não era desprovida de poder de observação e certa
perspicácia, mas aceitava bem a vida como ela era e certamente não era dada a
questionar a justificativa da ordem estabelecida".[50] Tudo isso
significou que a princesa não tentaria "uma posição na vida que fosse
independente da de seu pai".[51]
Tudo isso ocorreu
porque Isabel "estava em fundamental desvantagem em relação ao pai. Ela
tinha uma personalidade forte, mas não podia tirar proveito disso. Quando
criança ela não compartilhava a seriedade de D. Pedro II, sua perseverança ou
seu interesse pelo mundo. O advento da adolescência não melhorou a
situação".[50] Lhe faltava introspecção e ela tinha uma "tendência
para adotar uma visão alegre da vida".[52] Além disso, a princesa
"não possuía naturalmente muita paciência ou notáveis poderes de
tolerância. Ela ia de um assunto de interesse para outro enquanto cada um
chamava sua atenção. Ela não tinha medo de falar o que pensava, e mantinha
opiniões fortes. Entretanto, quando encontrava algo que não gostava, tinha
dificuldades de se focar e organizar sua resistência para que sua visão
prevalecesse. Ela tinha a tendência de incendiar-se e, em seguida, submeter ou
perder o interesse".[29]
Teresa Cristina
"vivia para sua família e encontrava realização ao fazer seu esposo e
filhas felizes".[47] A imperatriz "criou para sua família uma vida
caseira que era protegida, segura e previsível".[53] Isabel e Leopoldina
"amavam sua mãe gentil e idolatravam seu pai exigente mas emocionalmente
distante".[33] De ambos os pais ela herdou a falta do racismo.[37] Pedro
se cercava com homens "independentemente da sua raça". O historiador
James McMurtry Longo afirmou que "a estudante, filha e herdeira de seu pai
a Princesa Isabel seguiu seu exemplo. Raça nunca teve um papel em sua vida
social, relações políticas, alianças ou desacordos", concluindo "que
talvez tenha sido a mais importante lição que ela aprendeu dele".[54]
A família imperial
vivia no Paço de São Cristóvão, porém durante o verão entre dezembro e abril
eles iam para o Palácio Imperial na cidade de Petrópolis.[55][56] Isabel vivia
uma vida quase completamente reclusa em relação ao mundo, longe dos olhos dos
brasileiros. Ela e sua irmã tiveram poucas amigas. Três delas que acabariam se
tornando amizades duradouras foram Maria Ribeiro de Avelar (cuja mãe era uma
amiga de infância das irmãs do imperador), Maria Amanda de Paranaguá (filha de
João Lustosa da Cunha Paranaguá, Presidente do Conselho de Ministros e depois
Marquês de Paranaguá) e Adelaide Taunay (filha de Félix Émile Taunay, antigo
professor de Pedro, e irmã de Alfredo d'Escragnolle Taunay).[57] A única
criança menino que fazia parte do grupo todo feminino da princesa era Horace
Dominique, o único filho de Barral, que era considerado por Isabel e Leopoldina
como "o irmão caçula que elas nunca tiveram".[58]
Casamento[editar |
editar código-fonte]
Isabel c. 1865.
Isabel era baixa,
tinha olhos azuis, cabelo loiro,[59] era um pouco acima do peso[60] e não tinha
sobrancelhas.[61] Seu pai procurou um marido para ela e Leopoldina entre as
casas reais francesas, inicialmente considerando o príncipe Pedro, Duque de
Penthièvre e filho de Francisco, Príncipe de Joinville.[62] A mãe dele era a
princesa D. Francisca, irmã do imperador. Entretanto, o duque não estava
interessado e recusou. Ao invés disso, Francisco sugeriu seus sobrinhos os
príncipes Gastão, Conde d'Eu, e Luís Augusto de Saxe-Coburgo-Gota como escolhas
adequadas para as duas princesas.[63] Os dois homens viajaram para o Brasil em
agosto de 1864 a fim que os quatro pudessem se conhecer antes de qualquer
acordo final ser acertado. Isabel e Leopoldina só foram informadas quando
Gastão e Luís Augusto já estavam a caminho.[64] Os dois chegaram no começo de
setembro e Gastão descreveu as duas princesas como "feias", porém
achou que Isabel era menos do que Leopoldina. Por sua vez, Isabel em suas
próprias palavras "[começou] a sentir um terno amor" pelo conde.
Gastão e Isabel, e Pedro Augusto e Leopoldina, ficaram noivos em 18 de
setembro.[65]
Gastão e Isabel se
casaram em 15 de outubro na Capela Imperial do Rio de Janeiro por D. Romualdo
Antônio de Seixas, o Arcebispo da Bahia.[66] Apesar do príncipe ter encorajado
sua esposa a ler bastante, enquanto imperador a levou para algumas visitas e
compromissos oficiais, sua perspectiva permaneceu de estreita domesticidade.
Ela levava uma vida típica das mulheres aristocráticas de sua época.[67] Isabel
e Gastão viajaram pela Europa durante os primeiros seis meses de 1865.[68] Os
dois viajaram como civis já que Brasil tinha quebrado relações diplomáticas com
o Reino Unido e os parentes do príncipe tinham sido depostos na França,
encontrando-se com a rainha Vitória do Reino Unido como visitas pessoais e não
como convidados de estado oficiais.[69] Gastão acabou convocado por Pedro para
lutar na Guerra do Paraguai pouco depois do casal retornar ao Brasil, deixando
Isabel sozinha no Rio de Janeiro.[70]
Gastão e Isabel
novamente viajaram pela Europa após o fim da guerra em 1870. Eles estavam em
Viena, Áustria-Hungria, no começo de 1871 quando Leopoldina adoeceu e morreu em
Coburgo, Saxe-Coburgo-Gota, deixando Isabel como a única filha ainda viva de
seus pais.[71]
Regências[editar |
editar código-fonte]
Primeira[editar |
editar código-fonte]
Isabel c. 1870.
Isabel e Gastão
voltaram para o Brasil em 1 de maio de 1871, apenas três semanas antes de Pedro
e Teresa Cristina embarcarem em sua própria viagem pela Europa. A princesa foi
nomeada regente com poderes totais para governar o país na ausência do
imperador, porém era esperando que José Maria da Silva Paranhos, Visconde do
Rio Branco e Presidente do Conselho de Ministros, fosse quem realmente cuidasse
do governo e mantivesse o verdadeiro poder.[72] Após a abolição da escravidão
nos Estados Unidos, Pedro estava comprometido com um gradual programa de
libertação; algo que sua filha também apoiava bastante.[73] Em 27 de setembro,
enquanto o imperador ainda estava no exterior, Isabel sancionou um novo ato
anti-escravidão aprovado pela Câmara dos Deputados. A Lei do Ventre Livre, como
foi chamada, alforriava todas as crianças nascidas de escravos após essa
data.[74] Pedro voltou em março de 1872 e a princesa novamente foi excluída dos
assuntos de governo, retornando para a vida privada.[75]
Isabel sempre quis
muito ter filhos durante seus primeiros anos de casada, porém demorou seis anos
para sua primeira gravidez e ela acabou terminando em aborto em outubro de
1872.[76] Ela estava preocupada que era incapaz de conceber filhos e, durante
um nova viagem pela Europa em 1873, a princesa se consultou com um médico
especialista e visitou o santuário de Lourdes na França.[77] Isabel engravidou
novamente em dezembro. Apesar de seus pedidos para permanecer na Europa até
depois do nascimento, Pedro insistiu que ela retornasse ao Brasil para que a
criança, que talvez um dia herdasse o trono, pudesse nascer em território
nacional.[78] Eles chegaram ao Rio de Janeiro em junho de 1874 e no mês
seguinte ela passou por um trabalho de parto de cinquenta horas que terminou
com a morte do bebê ainda em seu útero.[79] Sua fé católica lhe proporcionou
consolo, porém sua associação com o ultramontanismo, que enfatizava a
autoridade da Igreja sobre o governo, atraiu críticas por parte daqueles que
defendiam que a Igreja deveria deferir para as autoridades temporais.[80]
A princesa permaneceu
preocupada durante toda sua terceira gravidez em 1875, temendo que ela
novamente terminasse em fracasso.[81] Um médico e uma parteira franceses foram
chamados para o nascimento, para o desalento dos médicos brasileiros cujo
orgulho foi ferido pelo uso de estrangeiros. Após um trabalho de parto de treze
horas, auxiliando ainda por um fórceps, Isabel finalmente teve um filho em 15
de outubro que foi batizado de príncipe D. Pedro de Alcântara em homenagem ao
imperador.[82] Possivelmente como resultado do difícil parto, a criança nasceu
com o braço esquerdo desabilitado.[83]
Segunda[editar |
editar código-fonte]
Gastão, Pedro, Teresa
Cristina e Isabel c. 1875.
Pedro embarcou em
março de 1876 para uma nova viagem desta vez para a América do Norte, Europa e
Oriente Médio, com Isabel novamente ficando como regente.[84] As eleições no
final do ano mantiveram o gabinete governamental liderado por Luís Alves de
Lima e Silva, Duque de Caxias, porém fraudes e violência durante a campanha
danificaram a imagem do gabinete e da princesa.[85] Sua popularidade também
sofreu da contínua tensão entre a Igreja e o Estado.[86] Para piorar seu
estresse, ela sofreu um novo aborto em 11 de setembro e ficou muito
enfraquecida pela perda de sangue.[87] Ao mesmo tempo, Gastão adoeceu com
bronquite e ele acabou ficando de cama por três semanas.[88] O casal decidiu
sair da vida pública, como o próprio conde explicou: "Quando a princesa
não é mais vista todos os dias nas ruas do Rio, ela é esquecida por um tempo e
há menos tentações para denunciar cada um de seus atos e decisões para o público
descontente".[89] Entretanto, a reclusão dos dois os isolaram e impediram
que influenciassem a opinião pública.[90] Uma séria seca no nordeste do Brasil
ocorreu no meio de 1877 e ameaçou a ordem pública, mas Isabel permaneceu em
casa descansando pois mais uma vez estava passando por outra gravidez
difícil.[91]
O imperador voltou
para o Brasil em setembro de 1877 e evitou falar com a filha, distanciando-se
das ações do governo durante a regência ao declarar que por toda sua viagem ele
não tinha enviado "um único telegrama sobre os assuntos do país" para
qualquer ministro ou Isabel.[92] A princesa retirou-se para sua propriedade em
Petrópolis, onde no final de janeiro do ano seguinte ela deu à luz seu segundo
filho, príncipe D. Luís.[93] Três meses depois a família novamente deixou o
Brasil para ficarem um tempo na Europa, onde Pedro de Alcântara receberia
tratamento para seu braço.[94] Eles permaneceram por lá durante três anos e
meio, e nesse tempo Isabel evitou política e não demonstrou nenhum interesse em
assuntos contemporâneos.[95] O tratamento do filho mostrou-se inútil e o casal
fez planos para retornar ao Brasil após o nascimento de seu terceiro filho,
príncipe D. Antônio, em agosto de 1881.[96] A família chegou em dezembro.[97]
Terceira[editar |
editar código-fonte]
Cerimonia de
aclamação de Isabel como regente em 1887.
Isabel viajou pelo
sul e sudeste do Brasil junto com Gastão entre novembro de 1884 e março de
1885, sendo muito bem recebidos pela população local. Em janeiro de 1887 eles
partiram para outra ida até a Europa, porém a viagem precisou ser interrompida
porque Pedro tinha adoecido e sua saúde estava cada vez mais fraca, com Isabel
e Gastão chegando no início de junho. Os médicos do imperador aconselharam uma
viagem pela Europa como tratamento, fazendo com que ele partisse em 30 de junho
em meio a grandes saudações da população, deixando a princesa pela terceira vez
como regente do império.[98]
O abolicionismo no
Brasil havia crescido bastante em força, porém o governo de João Maurício
Wanderley, Barão de Cotegipe, tentou retardar o ritmo das reformas.[99] Isabel,
em suas próprias palavras, tornou-se "mais do que convencida de que alguma
ação precisa ser feita" para expandir o programa de emancipação,
pressionando Cotegipe sem sucesso para que ele libertasse mais escravos.[100]
Ao mesmo tempo, a insubordinação militar havia crescido dentro do Exército
Brasileiro. No começo de 1888 um oficial militar foi preso pela polícia por
causar perturbação na rua, fazendo com que vários outros oficiais incluindo o
marechal Deodoro da Fonseca se revoltassem com o ocorrido e pressionassem o
governo. Cotegipe manteve-se firme contra os militares e Isabel aproveitou a
situação para dispensar todo o gabinete e nomear o abolicionista João Alfredo
Correia de Oliveira como o novo Presidente do Conselho de Ministros.[101][102]
Apesar de ter ganho um gabinete favorável ao fim da escravidão, as ações da
princesa abriram caminho para demandas mais audaciosas e maiores
indisciplinações por parte dos militares.[103]
O gabinete de Correia
de Oliveira era completamente a favor da abolição incondicional, rapidamente
apresentando em 8 de maio uma proposta de legislação na Câmara dos Deputados
que foi amplamente bem recebida em ambas as câmaras do parlamento. Os deputados
aprovaram o texto em 10 de maio e o passaram para o Senado, que o aprovou em 13
de maio. Isabel no mesmo dia sancionou a legislação, que ficou conhecida como a
Lei Áurea e abolia imediatamente a escravidão em todo território nacional.[104]
A alegria pela aprovação da lei foi grande e a princesa foi popularmente
aclamada como "a Redentora",[105] recebendo a Rosa de Ouro do papa
Leão XIII devido suas ações.[106]
Últimos anos[editar |
editar código-fonte]
Golpe de
estado[editar | editar código-fonte]
Ver também: Declínio
e queda de Pedro II do Brasil e Proclamação da República do Brasil
A última foto da
família imperial no trono, 1889. Da esquerda para a direita: Teresa Cristina,
Antônio, Isabel, Pedro, Pedro Augusto, Luís, Gastão e Pedro de Alcântara.
Para o alívio de
Isabel, Pedro retornou de sua viagem em agosto de 1888 e sua regência se
encerrou.[107] O imperador foi recebido com uma enorme demonstração de afeição
e entusiasmo popular, sem precedentes em seu reinado até então. Gastão escreveu
que: "A avidez e o entusiasmo do público pelo imperador foram imensos
[...] Mas é uma homenagem inteiramente pessoal; porque, como eu acho que já
escrevi, o credo republicano fez, desde a partida dele no ano passado, enormes
avanços que impressionam a todos; [...] nunca, nos últimos 40 anos, a situação
da monarquia brasileira pareceu mais abalada do que atualmente".[108]
Pedro estava com a
saúde fraca e Isabel voltou para a vida particular, assim nenhum esforço foi
feito para capitalizar a popularidade pública criada com o fim da escravidão e
o retorno do imperador.[109] A monarquia tinha perdido o apoio dos fazendeiros
de café donos de escravos, que mantinham grandes poderes econômicos, sociais e
políticos.[110][111] Além disso, vários oficiais militares descontentes
começaram a abertamente conspirar contra o governo por acreditarem que estavam
sofrendo uma espécie de "assédio" nas mãos da monarquia.[112] A
emergente facção republicana começou a atrair ambos os grupos; o historiador
Roderick J. Barman escreveu que: "Tradicionalistas em essência, eles
consideravam a ação da regente uma traição repulsiva a sua longa lealdade [...]
O republicanismo para esse grupo era menos uma crença do que uma
arma".[113] Apesar de tudo isso, a vasta maioria do povo brasileiro ainda
apoiava a continuação do sistema imperial e não tinham nenhuma atração pelo republicanismo.[114]
Internamente na
família imperial, Pedro há muito estava cansado de sua posição de imperador e
sonhava em poder deixar tudo para trás e viver na Europa, porém continuava
realizando suas funções por senso de dever.[115] Ele também aboliu várias
cerimônias e rituais relacionadas com a monarquia.[116] Isabel jamais se
interessou em política e não cultivou estadistas próprios ou o apoio público,
assim nunca teve ninguém dentro dos círculos de poder que poderia apoiar e
defender sua sucessão. Seu zelo religioso também era visto com
desconfiança,[106] além de ser amplamente presumido que Gastão é quem manteria
o poder e não ela quando se tornasse imperatriz. O príncipe por sua vez também
não tinha interesse em política e estava mais isolado por causa de uma surdez
cada vez maior, sendo também impopular devido ao seu nascimento
estrangeiro.[117] A posição de Isabel foi minada ainda mais por seu sobrinho o
príncipe Pedro Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, que tentava maquinar nos
bastidores para tornar-se o herdeiro do imperador.[118]
Um grande número de
oficiais do exército encontraram-se em 9 de novembro de 1889 e planejaram um
golpe de estado.[119] O marechal Deodoro da Fonseca assumiu o comando de
seiscentos homens no dia 14 e tomou o quartel general do exército, exigindo a
substituição do gabinete liderado por Afonso Celso de Assis Figueiredo,
Visconde de Ouro Preto.[120] No dia seguinte, 15 de novembro de 1889, Deodoro
proclamou a república e depôs Pedro em um golpe de estado republicano.[121][122][123]
O imperador recusou quaisquer sugestões dadas por políticos e líderes militares
leais para subjugar a rebelião,[124][125] simplesmente comentando que "Se
assim é, será minha aposentadoria. Trabalhei demais e estou cansado. Agora vou
descansar".[126] Pelos dois dias seguintes a família imperial ficou
confinada ao Paço Imperial no Rio de Janeiro, onde receberam a notícia de que
tinham sido banidos do Brasil.[127] Na madrugada de 17 de novembro a família
embarcou no navio Alagoas e partiu para Portugal.[128] Algum tempo depois de
ser exilada, Isabel publicou uma declaração que dizia:
“ É com o coração despedaçado pela
tristeza que me despeço dos meus amigos, de todos os Brasileiros, e do país que
eu amei e amo muito, e da felicidade que eu tenho lutado para contribuir e pela
qual eu vou continuar a manter as mais ardentes esperanças.[129] ”
Exílio[editar |
editar código-fonte]
Isabel e Gastão junto
com seus netos, seu filho Luís e a esposa deste Maria Pia em 1913.
A família imperial
chegou em Lisboa em 7 de dezembro de 1889.[130] Teresa Cristina estava doente
desde a deposição e morreu três semanas depois no Porto, enquanto Isabel e sua
família estavam no sul da Espanha.[131] A princesa voltou para Portugal e
desmaiou durante o funeral de sua mãe. Mais notícias ruins chegaram do Brasil
dizendo que o novo governo republicano havia abolido as pensões da família
imperial, sua única fonte de renda substancial, e oficialmente banido todos os
seus membros para sempre do território brasileiro.[132] Eles receberam um
grande empréstimo de um banqueiro português no caminho de volta do enterro de
Teresa Cristina e se mudaram para o Hotel Beau Séjour em Cannes, França.[133]
Isabel e Gastão
acabaram se mudando no ano seguinte para uma vila particular, que era bem mais
barata que o hotel, porém Pedro havia se recusado a acompanhá-los e permaneceu
em Cannes. O príncipe Francisco, tio de Gastão, concedeu ao sobrinho e sua
esposa uma mesada mensal.[134] Em setembro eles foram para uma vila perto de
Versalhes e seus filhos entraram em escolas parisienses.[135] Pedro morreu em
dezembro de 1891, com Isabel sendo reconhecida pelos monarquistas como a
imperatriz, enquanto suas propriedades no Brasil foram vendidas e o dinheiro
usado para pagar as dívidas do imperador na Europa.[136] Isabel e Gastão
compraram uma vila em Bolonha-Billancourt, onde passaram a viver uma vida
quieta.[137] As tentativas dos monarquistas de restaurar o regime imperial
foram mal sucedidas, com Isabel nunca dando apoio completo. Ela achava que
ações militares eram imprudentes e indesejáveis, corretamente prevendo que
todas provavelmente fracassariam.[138]
Francisco morreu em
1896 e a herança que Gastão recebeu permitiu que ele e Isabel tivessem uma
estabilidade financeira. Seus três filhos entraram em uma escola militar de
Viena, enquanto a princesa continuou com seus trabalhos de caridade
relacionados à Igreja Católica.[139] Gastão comprou o Castelo d'Eu na
Normandia, antiga casa de seu avô o rei Luís Filipe I da França, com o casal
mobilhando o lugar usando itens recebidos do Brasil no começo da década.[140]
Pedro de Alcântara
quis em 1908 se casar com a condessa Elisabeth Dobržensky de Dobrženicz, porém
Isabel e Gastão não lhe deram permissão porque Elisabeth não era uma princesa.
A permissão só foi dada quando seu segundo filho Luís, que havia viajado para o
Brasil mas foi proibido de desembarcar pelas autoridades, se casou com a
princesa Maria Pia de Bourbon-Duas Sicílias e Pedro de Alcântara renunciou seus
direitos ao trono brasileiro em favor de seu irmão.[141] Luís e Antônio lutaram
durante a Primeira Guerra Mundial pelo Exército Britânico, já que como também
membros da família real francesa eles estavam proibidos de servirem no Exército
Terrestre Francês.[142] Luís foi considerado inválido para o serviço ativo em
1915 enquanto Antônio morreu de ferimentos causados por um acidente aéreo pouco
depois do armistício.[143] Isabel escreveu a Gastão afirmando que tinha
"perdido a cabeça" pela dor, "porém o Bom Senhor a
restaurou".[144] Luís acabou morrendo no começo de 1920 após uma longa doença.[145]
A saúde da princesa
começou a deteriorar e em 1921 ela mal conseguia andar. Ainda em 1920 o governo
republicano brasileiro do presidente Epitácio Pessoa suspendeu o banimento da
família imperial, porém Isabel estava doente demais para viajar. Dessa forma,
Gastão e Pedro de Alcântara voltaram para o Brasil no começo de 1921 para o
reenterro do imperador e da imperatriz em Petrópolis.[145] Isabel acabou
morrendo aos 75 anos de idade em 14 de novembro de 1921, um dia antes do
aniversário de 32 anos da república brasileira, sendo inicialmente enterrada na
tumba da Casa d'Orleães em Dreux, França. Gastão morreu no ano seguinte no Rio
de Janeiro enquanto estava no Brasil para as celebrações do centenário da
independência, sendo enterrado junto da esposa. Os restos do casal foram
repatriados para o Brasil em 1953 e reenterrados em 1971 na Catedral de São
Pedro de Alcântara em Petrópolis ao lado de Pedro e Teresa Cristina.[146]
Legado[editar |
editar código-fonte]
As tumbas de Isabel
(esquerda), Pedro e Teresa Cristina (centro) e Gastão (direita) na Catedral de
Petrópolis.
De acordo com o
historiador Roderick J. Barman: "na visão da posteridade, [Isabel] agiu
decisivamente apenas uma vez em uma única questão: a imediata abolição da
escravidão".[147] De fato, é por essa realização, e exclusivamente por
ela, que a princesa é amplamente lembrada pelo povo brasileiro. Como Barman
também explicou, paradoxalmente este "exercício principal do poder pela
qual a posteridade só se lembra dela [...] contribuiu para sua exclusão da vida
pública". A própria Isabel escreveu um dia após o golpe de estado
republicano: "se a abolição é a causa disto, eu não me arrependo; eu
considero valer a pena perder o trono por ela".[148]
Isabel nunca se
imaginou assumindo a posição de monarca do Brasil. Ela aparentava estar feliz
em apoiar a posição de seu pai e nunca realizou esforços para contrariá-lo ou
competir com ele. Suas visões também não atraiam políticos insatisfeitos, e
assim nenhum movimento independente se formou ao seu redor.[149] A princesa "estava
satisfeita com a vida de uma dama aristocrática, dedicada à família, religião,
obras de caridade, teatro, ópera, pintura e música".[150] Essas atitudes e
posturas de Isabel já foram apontadas como um dos motivos que ajudariam a
danificar a base da monarquia brasileira,[151] aliado ainda ao fato do próprio
Pedro considerar como antiética a ideia de uma imperatriz[152] e o
estabelecimento político da época ter sérias reservas sobre aceitar uma
governante mulher, ainda mais uma como a princesa.[153]
Títulos e
honras[editar | editar código-fonte]
Títulos e
estilos[editar | editar código-fonte]
Estilo imperial de
tratamento de
Isabel, Princesa
Imperial do Brasil
COA Imperial Prince
of Brazil.svg
Estilo imperial Sua Alteza Imperial
Estilo alternativo Senhora
29 de julho de 1846 –
11 de junho de 1847: "Sua Alteza, Princesa Isabel do Brasil"
11 de junho de 1847 –
19 de julho de 1848: "Sua Alteza Imperial, a Princesa Imperial"
19 de julho de 1848 –
9 de janeiro de 1850: "Sua Alteza, Princesa Isabel do Brasil"
9 de janeiro de 1850
– 14 de novembro de 1921: "Sua Alteza Imperial, a Princesa Imperial"
15 de outubro de 1864
– 14 de novembro de 1921: assinava cartas pessoais como "Isabel, Condessa
d'Eu"
Nenhum comentário:
Postar um comentário