40 anos sem Bruce
Lee: as origens e o mestre por trás do mito.
A biografia oficial
diz que em 1908, quando tinha 15 anos, Yip Man mudou-se para Hong Kong com a
ajuda de um parente. De acordo com os dois filhos, ele mudou de vida após
presenciar um policial batendo em uma mulher estrangeira. A história diz que o
policial tentou atacá-lo quando interveio em defesa da mulher, e que Yip Man
usou suas técnicas. A cena teria sido vista por um homem mais velho, que
perguntou qual arte marcial era aquela. O velho pediu a Yip Man que lhe
mostrasse as primeiras duas formas – Sil Lim Tao e Chun Kiu. Ele gostou do que
viu. E então desafiou Yip Man a enfrentá-lo. O homem de mais de 50 anos venceu,
e Yip Man percebeu que tinha muito a aprender. Foi convidado para treinar Chi
Sau (uma forma que envolve o ataque controlando a defesa). E então descobriu
que aquele homem era companheiro de seu mestre, Leung Bik, filho de outro
mestre seu, Leung Jan, para quem tinha prometido que jamais ensinaria os
golpes, por temer que fossem usados para o mal. Treinou e, com 24 anos, Yip Man
voltou a Foshan com as habilidades de wing chun tremendamente aprimoradas.
Conhecido por ser uma
pessoa modesta e sempre alegre, Yip Man passou a ser admirado pelo jeito
simples, prova de que o verdadeiro wing chun amadureceu o seu modo de pensar.
Esse era outro motivo pelo qual era querido na cidade: Foshan era um centro de
artes marciais, e ele era um mestre sem igual. Tanta admiração fez com que
recebesse o cargo de chefe de polícia da cidade, que aceitou com entusiasmo. Na
corporação, ensinou a arte para vários subordinados, e também a amigos e
parentes deles.
Mas os japoneses
invadiram a China e Yip Man, buscando tranquilidade, voltou para a casa em que
morou, na aldeia Kwok Fu. O ano era 1937. Sua fama chegou aos ouvidos dos
japoneses, que, achando serem racialmente invencíveis, o testavam. Lutavam com
ele e perdiam. Queriam que Yip Man lhes ensinasse a técnica, mas ele se negou e
acabou com todos os bens confiscados pelo exército imperial japonês. Por sorte
não foi executado. Sua mansão foi transformada em quartel-general. Teve de
viver em extrema pobreza e, como só sabia artes marciais, viu-se obrigado a
quebrar a promessa que fez para Leung Bik e começou a ensinar wing chun para
chineses que buscavam defesa contra o exército japonês. A esposa adoeceu nesse
período e morreu, deixando Yip Man sozinho para cuidar dos quatro filhos.
Ele só retornou a
Foshan depois da guerra, novamente como policial. No final de 1949, depois que
o Partido Comunista venceu a guerra civil chinesa e tomou a cidade, sendo ainda
um oficial Kuomingtang (do Partido Nacionalista Chinês, o que hoje governa a
dissidente Taiwan), ele decidiu fugir sem a família para Hong Kong, que na
época era colônia britânica.
Com poucos recursos,
abriu uma escola de artes marciais. As vitórias dos alunos ajudaram a reforçar
a reputação de Yip Man. Em 1967, ele e alguns dos alunos fundaram a Kong Ving
Tsun Athletic Association Hong, que prosperou. A frase mais conhecida dele é
uma espécie de homenagem não declarada a Bruce Lee: “É difícil para o aluno
escolher um bom professor, mas é ainda mais difícil para um professor pegar um
bom aluno”. Em 1972, Yip Man morreu de câncer na garganta por causa do fumo.
Mas, nas três décadas de sua carreira, ele estabeleceu um sistema de
treinamento para o wing chun que se espalhou pelo mundo, graças à fama do
principal pupilo.
A lenda de Yip Man
passou a ser mais amplamente conhecida a partir de 2008, quando foi lançado o
elogiado O Grande Mestre, protagonizado por Donnie Yen, dirigido por Wilson Yip
e com cenas de luta coreografadas pelo ator e especialista em cenas de ação
Sammo Hung (que trabalhou com Bruce Lee em Operação Dragão). O filho mais velho
de Yip Man, Ip Chun, aparece no longa, além de ser o principal consultor do
roteiro. Em 2010, foi lançada a segunda parte, que retrata o início do contato
de Yip Man com Bruce Lee. O sucesso do filme ajudou a alavancar uma mania que
gerou inúmeros longas sobre o mestre. Mais recentemente, o diretor de arte Wong
Kar-wai (de Amor à Flor da Pele) elaborou uma visão mais particular sobre o
mito em The Grandmaster, ainda sem previsão de estreia no Brasil. Nele, o galã
Tony Leung interpreta Yip Man.
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