Quanto custa um
sonho? Bom, há quem defenda que sonhos não têm preço. Mas, se você quiser ser
médico na Bahia, pode precisar desembolsar nada menos R$ 720 mil. É o cálculo
que fazem estudantes e a própria Associação Baiana de Medicina (ABM) a partir
dos valores das mensalidades praticados por algumas instituições de ensino do
estado. Uma das universidades chega a cobrar mais de R$ 10 mil por mês, em seis
anos de curso.
A Unime, em Lauro de
Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, tem o curso de medicina mais caro
da Bahia. Oitavo semestre, o estudante Guilherme Pimentel, 26 anos, veio de
longe para realizar seu sonho. Ao chegar, vindo do Tocantins, constatou: “Cursos
de medicina se transformaram em um grande comércio. São eles que mantêm vivas
as faculdades particulares, já que outros cursos vão de mal a pior”, acredita
Guilherme, que até o último semestre desembolsava integralmente R$ 8,4 mil por
mês.
Agora, em 2018,
Guilherme terá que pagar ainda mais. “Vai ter um aumento. Passarei a pagar
perto de R$ 9,4 mil. Mas vai ter colega pagando acima de R$ 10 mil”, calcula.
Quer dizer, colegas, não. A família.
“Acaba envolvendo
toda a família. Conheço colegas que os pais já se desfizeram de apartamentos,
carros e outros bens para manter os filhos estudando. É muito perverso”, define
Guilherme, cujo os pais são funcionários públicos.
Além do gasto com a
mensalidade, o procurador e a defensora pública do Tocantins precisam pagar
aluguel e alimentação do filho em Salvador. “Calculo que vou gastar meio milhão
de reais até o final do curso só com a mensalidade. Imagine os que se
matricularam agora”.
Emoção
As histórias de vida
de alguns estudantes chegam a emocionar. Especialmente os que têm origem
humilde. Nesses casos, para ser o primeiro integrante da família a se tornar
médico, muitas vezes precisam envolver tios, tias, avôs e avós para ajudar a
pagar o curso. No mínimo, a decisão de cursar Medicina torna a vida dos membros
do núcleo familiar bastante restrita.
Morador do bairro da
Liberdade, um aluno do 12º semestre da Unifacs, que prefere não se identificar,
diz que pensou várias vezes em desistir. Prestes a se formar, agora no último
semestre do curso, conta que o pai precisou utilizar as economias de uma vida.
“Passei na Unifacs, e
agora? Mensalidade de R$ 5 mil para um
morador da Liberdade era algo surreal. Achei que seria impossível e quis
desistir de cursar”, conta o estudante.
“Minha mãe não tem
renda e minha irmã também faz faculdade. No fim das contas, eu não teria
condições de pagar a tal mensalidade, caso meu pai não tivesse feito um
planejamento financeiro”, continua.
“Não passamos por
necessidades, mas deixamos de fazer muitas coisas importantes como lazer,
viagens, mudança de bairro, entre outras”, lamentou o estudante, que calculou
cada centavo que gastou. No primeiro ano, gastou R$ 31.476. No último, R$
45.516. No final, em seis anos, desembolsou R$ 392.304. O valor de um
apartamento de dois quartos em um bairro nobre de Salvador.
Há as formas de
financiamento, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), programa criado
pelo Ministério da Educação (MEC), além de planos das próprias universidades.
Mas, mesmo para esses
estudantes, a vida não é fácil. Amália Queiroz, 32, também da Unifacs, se forma
em 2018. Com Fies de 100%, pagaria R$ 7.586,90. Mais dia menos dia, essa conta
vai chegar. “Pra quem entrou depois tá mais caro, tem gente que já paga mais de
R$ 8 mil. Devo um carro por semestre ao Fies”, compara.
Grande negócio
Os que já estão
pagando a conta fazem isso ao mesmo tempo em que vão começar a pagar cursos de
residência médica. Por isso, antes disso, começam a trabalhar como clínicos.
Formado em julho do ano passado pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC),
Deivid Santos Bomfim, 31, terminou o curso pagando quase R$ 5 mil por mês. No
momento, é médico de um posto de saúde de Candeias, na RMS, e se prepara para
fazer residência.
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