Pesquisadores,
professores, técnicos, produtores, representantes do poder público e de
agências de fomento se reuniram no dia 22 de maio no IV Encontro sobre o
Processo de Indicação Geográfica (IG) da Farinha de Copioba, realizado na
Embrapa Mandioca e Fruticultura — Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento —, em Cruz das Almas (BA). O objetivo do evento foi auxiliar os produtores
nesse processo de obtenção do registro junto ao Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI) e de busca de novos parceiros.
“A importância desse
encontro é tornar realidade as pesquisas tanto da Embrapa quanto da Ufba
[Universidade Federal da Bahia]. É um projeto que sai do papel, das
recomendações, das publicações e vai para a realidade. O objetivo é dar voz a
quem é de direito. Os produtores têm que falar, as pessoas que realmente
precisam da farinha para viver é que têm que ser ouvidas, para que possamos
discutir e chegar a um consenso para estabelecer os parâmetros de produção”,
afirmou o pesquisador Rodrigo Paranhos (Embrapa Agroindústria de Alimentos,
RJ), líder do projeto Agregarte, que busca agregar valor aos produtos
alimentícios tradicionais de reconhecida qualidade sensorial e valor
histórico-cultural. Os trabalhos relacionados à farinha de copioba são
desenvolvidos desde 2011, em parceria com a Embrapa Mandioca e Fruticultura e a
Ufba. Hoje conta também com a parceria da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia (UFRB).
Durante o encontro,
além das apresentações dos resultados dos projetos de pesquisa da Embrapa e da
Ufba, discutiram-se as formas de contribuição do grupo de profissionais
envolvidos no trabalho de IG na estruturação das organizações produtivas que
estão aptas a participar do edital Bahia Produtiva de apoio à agricultura
familiar, lançado recentemente pela Secretaria de Desenvolvimento Rural do
Estado da Bahia (com representantes no evento) para contemplar projetos de
formação de alianças produtivas territoriais, recuperação de agroindústrias e
inclusão produtiva. “Temos muitos desafios. Construir uma Indicação Geográfica
preconiza uma discussão com diversos atores que estão envolvidos no processo
para que eles entendam, se apropriem do conceito e possam encarar esse registro
como instrumento também de desenvolvimento territorial”, pontuou o professor
Alcides Caldas, do Instituto de Geociências da Ufba, que apresentou no evento o
projeto IG Copioba da universidade, juntamente com as professoras Márcia Matos e
Ryzia Cardoso.
Alcides explicou que
em todo o País há em torno de 50 indicações geográficas, a maioria no Sul do
Brasil. “No Nordeste, a gente começa a visualizar isso. Na Bahia, discutimos
desde 2005 a Indicação Geográfica da cachaça. Acreditamos que dentro de pouco
tempo tenhamos essas representações territoriais. No caso da IG da farinha de
copioba, a parte técnica está de certa forma adiantada. As análises já foram
feitas, mas uma parte, que é muito trabalhosa, se refere às organizações
sociais que vão solicitar o registro. Nem a universidade nem a Embrapa pode
solicitar esse registro. Quem vai solicitar é uma entidade representativa dos
produtores de farinha de copioba desse território como um todo. Eles que são os
protagonistas. Nós fazemos o papel de intermediação entre o INPI e os
produtores. Mas a ideia com esses encontros é que haja esse engajamento, as
informações precisam vir dessas pessoas. Por mais que a gente pesquise, a gente
não vai ter o nível de apropriação que eles têm”, acrescentou.
O produtor Nailson
Conceição, presidente da Cooperativa da Agricultura Familiar do Território do
Recôncavo da Bahia (Coofatre), de São Felipe, que esteve presente nos quatro
encontros sobre o processo de IG da farinha de copioba e participa do edital
Bahia Produtiva, aposta na obtenção do registro para alavancar a agricultura da
região. “Estamos aqui hoje nessa discussão para conseguir essa Indicação
Geográfica. Vão ganhar os produtores, o próprio território, os municípios
envolvidos. Vai agregar valor ao produto. É um processo longo? Sim, é. Mas
participamos para que realmente dê certo.”
O pesquisador da
Embrapa Mandioca e Fruticultura Joselito Motta, que coordenou o evento junto
com a pesquisadora Luciana Alves, lançando mão de seu conhecimento e experiência,
desempenha papel fundamental no trabalho de identificação das casas de farinha
da região. “A farinha de copioba é uma farinha diferenciada. É creme, fina,
uniforme e crocante. Difere, portanto, de outras farinhas comercializadas com
adição de corantes naturais e artificiais. Produzida incialmente por produtores
de mandioca da Serra da Copioba, nos municípios de Nazaré, São Felipe e
Maragojipe, ganhou notoriedade e passou a ser produzida em outros municípios do
Recôncavo. Várias entidades do estado, incluindo a Embrapa, estão empenhadas
ajudando os agricultores a valorizarem a farinha de copioba com a sua IG”,
ressaltou.
O projeto Agregarte
Paranhos explica que
o Agregarte divide-se em quatro linhas de ação. A primeira abrange a parte
histórica e socioeconômica, com trabalhos em campo para conhecer o
funcionamento das casas de farinha da região (foram percorridos 12 municípios
do Recôncavo e visitados 27 produtores de farinha de copioba). Em seguida, vem
a etapa sensorial. Foi realizada, em 2015, na Embrapa Mandioca e Fruticultura,
análise sensorial com mais de cem consumidores regulares de farinha de
mandioca. Aspecto fino, de cor creme, crocante, uniforme e agradável ao paladar
foram os atributos que lideraram a preferência das farinhas de copioba analisadas.
Identificou-se também que as produzidas em forno mecânico tiveram a preferência
do consumidor em relação às produzidas em forno de cerâmica tradicional, o que
indica, como salienta Paranhos, que os produtores da região conseguiram adaptar
o processo à modernização produtiva, melhorando suas condições de trabalho, sem
interferir nas características sensoriais do produto.
A terceira linha de
atuação refere-se às análises físico-químicas. “Levamos para o Rio de Janeiro,
fizemos vários testes, inclusive mais complexos, de microscopia eletrônica. Foi
aí que a gente constatou que é difícil diferenciar a farinha comum da de
Copioba. O que diferencia mais é a questão sensorial mesmo, tanto para sabor
quanto para cor”, contou. Por último, o pesquisador cita a questão das boas
práticas de fabricação. O projeto vem elaborando uma recomendação de perfil
agroindustrial para a implantação de casas de farinhas. “Desenvolvemos
recomendações para servir como referência na implantação ou adaptação das casas
de farinha às exigências legais para que sejam cumpridos os aspectos sanitários
levando em conta as tradições regionais no que se refere ao processo produtivo
e respeitando o ‘saber fazer’ do produtor.” E acrescentou: “esse edital Bahia
Produtiva é uma excelente oportunidade na obtenção de recursos para fazer essas
adaptações nessas casas de farinha, e, como são cooperativas que participam,
podem mobilizar e despertar o interesse de um grupo grande de produtores”.
Jornalista: Alessandra Vale (Mtb-RJ 21.215)
Embrapa Mandioca e Fruticultura
Telefone: (75) 3312-8160
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