Uma mulher deu à luz dentro de um táxi poucos minutos ante de chegar à maternidade no último domingo (5). O parto foi realizado pelo esposo dela. Toda a situação aconteceu durante o trajeto entre a casa da gestante, localizada no bairro Cosme de Farias, até o Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba), em Brotas.
A equipe de reportagem do Varela Notícias conversou com dois dos protagonistas desse momento de muita apreensão. Micaele Karolaine de Jesus, mãe do bebê, e o taxista Raimundo Assis contaram como tudo aconteceu.
Durante a entrevista, Micaele relatou, inicialmente, que teve dificuldades antes mesmo do parto. Ela contou que não estava conseguindo achar vaga na maternidade devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
“Fui ao Iperba sábado [dia 4], e me disseram que lá estava lotado, que eu não poderia ter minha filha lá e que deveria procurar outra maternidade. Eu já estava sentindo dor, e o Iperba é o local mais perto de onde eu moro. Fiz meu pré-natal em um posto da Bonocô que é vinculado com eles. Quando tive minha primeira filha não tive do que reclamar, atenderam muito bem. Mas nessa segunda vez não foi assim. Por conta da pandemia, eles realmente não tinham vagas. Mas lá era o único lugar mais próximo para mim”, contou.
Sentindo dores e após conversar com o pessoal, Micaele conseguiu ser examinada, mas já foi avisada que não poderia ter o filho no Instituto devido a superlotação. “Me atenderam, fizeram o exame de toque e disseram que eu estava com 1 [dedo] de dilatação”. Ela conta ainda que deram uma medicação para ela conseguir dormir à noite, só que as dores continuaram.
Durante a madrugada, Micaele acordou sentindo dores mais fortes. Então ela foi, mais uma vez, ao Iperba e continuava com 1 dedo de dilatação. “Eles me mandaram voltar e andar por 2h para poder dilatar. (…) Retornei no horário que eles falaram e estava com 4 de dilatação. Eles me mandaram voltar para casa. (…) Disseram que internavam com a dilatação com 4 para cima, mas depois falaram que só a partir de 6. Então voltei para casa sentindo mais dor ainda”, relatou.
Depois, Micaele retornou à maternidade mais uma vez e continuava com 4 de dilatação, segundo os médicos. Com isso, ela foi orientada, mais uma vez, a voltar para casa. Já em sua residência, após um tempo, sentindo mais dores, ela percebeu que estava sangrando. “Chamei meu esposo para me levar lá [na maternidade]. Foi então que ele encontrou um taxista e pediu socorro. (…) No caminho a dor apertou cada vez mais. O motorista foi muito paciente com a gente”.
Chegando próximo ao Iperba, a bolsa de Micaele estourou. “Minha filha veio descendo, aí eu falei com o meu esposo ‘amor eu não estou aguentando, ela vai nascer’. Eu estava quase desmaiando de dor, meu marido e o motorista conversavam comigo”, contou.
Em determinado ponto, o bebê nasceu. “Não consegui segurar e tive ela dentro do carro. Meu esposo me ajudou e ela nasceu. Quando chegamos em frente ao Iperba eu esperei pela médica. (…) Eles socorreram a minha filha, entramos e me internaram”.
Segundo protagonista
Outra pessoa muito importante e que contribuiu para que tudo terminasse bem foi o taxista Raimundo Assis, que conduziu Micaele e o esposo até a maternidade. Em conversa com o VN o motorista contou como foi essa experiência.
“(…) Para falar a verdade, eu me lembro de pouca coisa porque foram momentos muito emocionantes. Durante o trajeto, o pai rezava, a mãe gritava, chamava por Deus (…), eu só sei te dizer que eu pedia para ela ter calma, que a gente já estava perto de chegar e tive muito cuidado no momento de passar por quebra mola”, iniciou Raimundo, que faz parte da Associação Geral dos Taxistas (AGT).
Ele conta que, quando chegaram na rua Teixeira Barros – a qual estava engarrafada – , um rapaz passou de bicicleta, percebeu o que estava acontecendo e começou pedir para que os outros carros saíssem da frente. “Aí, graças a Deus, abriu mais espaço. Chegando à intermediária entre o cemitério de Brotas e o Iperba, a moça gritou e logo em seguida ficou calada, então eu olhei para trás e ela já estava com o bebê no colo”.
“Chegando ao Iperba, o marido dela desceu do carro, eu tomei o cuidado de deixar a porta fechada por conta dos curiosos e também eu não sei o que deve ser feito nesse momento, foi uma coisa que nunca aconteceu em minha vida. Graças a Deus eu me contive, foi um negócio muito emocionante e muito bonito”, disse.
“Depois eu fiquei sabendo que o certo não seria nem eu conduzir o carro até a maternidade, mas sim parar e chamar o Samu. (…) Eu sei que graças a Deus eu conduzi o carro, chegou lá a menina já tinha nascido, e ocorreu tudo bem”, finalizou.
A mãe e o bebê, a pequena Annalara Pedreira de Jesus, que nasceu com 2kg e 800g, receberam alta na última segunda-feira (6), pouco depois do meio dia e estão bem.
O VN entrou em contato com a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) para saber sobre a questão das vagas em maternidades de Salvador, mas até o momento da publicação desta matéria não obtivemos respostas.
Sob a supervisão do jornalista Anderson Ramos*
VN
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