quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Diretor do Butantan apresenta projeto de vacina chinesa ao Ministério da Saúde: 'vacina é para brasileiros, não é para paulistas'




O diretor do Butantan, Dimas Covas, disse nesta terça-feira (25) que se reunirá na quarta-feira (26) com o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, para apresentar o projeto da Coronavac, vacina chinesa contra a Covid-19, desenvolvida por um laboratório chinês em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo.


“O Butantan fornece vacinas, todas as vacinas que ele produz, ao Ministério da Saúde, o Programa Nacional de Imunização e esse é o projeto. Vamos oferecer essa vacina, esses 45 milhões de doses ao Ministério da Saúde isso será, inclusive, objeto de uma audiência que teremos amanhã com o Ministro da Saúde para fazer essa oferta de forma oficial e aí cabe ao ministério, ao programa nacional de imunização definir como a vacina será utilizada. Obviamente, que essa vacina é para os brasileiros, não é para os paulistas” , disse Dimas Covas.


Na segunda-feira (24) o governador João Doria (PSDB) disse que pediu R$ 1,9 bilhão ao Ministério da Saúde para auxiliar na produção da vacina chinesa e que Dimas Covas se reuniriam com representantes do Ministério da Saúde para tentar avançar no diálogo e viabilizar a verba.


A previsão é a de que o instituto Butantan receberá do laboratório chinês 45 milhões de doses da vacina até o fim de 2020. Ao todo, 60 milhões de doses devem ser enviadas até o primeiro trimestre de 2021. Além disso, o instituto espera produzir 120 milhões de doses em sua fábrica, a qual deverá ficar pronta em um período de 10 a 15 meses.



Nesta terça-feira (25) o Butantan recebeu a Comissão Externa sobre ações de combate ao coronavírus da Câmera dos Deputados que conheceu as instalações do instituto, inclusive, o local onde está sendo montada a fábrica que produzirá parte das vacinas.


"Foi uma manhã muito proveitosa em que nós podemos apresentar aos senhores deputados o estágio atual de desenvolvimento do Butantan dentro do Butantan, assim como os planos para produção da vacina contra o coronavírus. Eu acho que é importante, essa transparência é fundamental. Mostramos o grau de desenvolvimento tecnológico que nossa instituição atingiu que está por vir, não só na questão da vacina, mas de outros medicamentos e acho que é importante para o Brasil, através de nossos representantes, que tenha muito claro o que nos espera", disse Dimas Covas.


De acordo com o presidente da Comissão, deputado Luizinho Teixeira (PP-RJ), os deputados irão receber as demandas do Butantan de forma oficial e irão apoiar o instituto na discussão com o Ministério da Saúde sobre como fazer o aporte de recursos.


“O Butantan tem demandas específicas sob questão de recurso para pesquisa clínica para implementação da sua produção. Eles já receberam aqui na semana passada representantes do Ministério da saúde, da secretaria de vigilância e saúde e eles estão formulando essas demandas. O Butantan, a secretaria de estado, vão levar à nossa comissão de forma oficial e a gente vai apoiar discutindo junto com o Ministério da Saúde como pode fazer o aporte de recursos aqui para ajudar a desenvolvimento e a fabricação dessa vacina nesse país", disse Luizinho.



Medida Provisória

No início do mês, o presidente Jair Bolsonaro assinou uma medida provisória que libera R$ 1,9 bilhão para viabilizar a produção de 100 milhões de doses da chamada "vacina de Oxford" contra o novo coronavírus.


A abertura do crédito extraordinário seguiu para análise do Congresso Nacional, que terá até 120 dias para aprová-lo. Por se tratar de uma medida provisória, o dinheiro fica liberado assim que o texto for publicado no "Diário Oficial da União".


Embalagem da vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, que será testada em 9 mil voluntários no Brasil — Foto: Divulgação/Governo de SP

Embalagem da vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, que será testada em 9 mil voluntários no Brasil — Foto: Divulgação/Governo de SP

Início dos testes

Os testes com a vacina chinesa contra a Covid-19 começaram no dia 21 de julho no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).



Ao todo, 9 mil profissionais da saúde devem participar dos testes nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília, durante a terceira fase de testes da vacina chinesa.


Os voluntários serão acompanhados por uma equipe científica durante três meses. Após a aplicação da primeira dose, os voluntários recebem uma segunda dose da vacina 14 dias depois.


Metade dos voluntários recebem placebo e a outra metade a vacina. Esse tipo de estudo é denominado de duplo cego, pois pesquisadores e pesquisados não sabem quem recebeu qual tipo de tratamento.


Em 3 de julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou a nova etapa do projeto. Dias depois, o governador João Doria (PSDB) anunciou que a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) também aprovou a realização dos testes.


Além do Hospital das Clínicas, a vacina será aplicada em doze centros de pesquisa selecionados no país e coordenados pelo Instituto Butantan.


Voluntários

Apenas profissionais de saúde que estejam atuando diretamente no combate à Covid-19 poderão participar da terceira fase de testes da vacina contra o novo coronavírus. Outros pré-requisitos são que os voluntários não tenham se contaminado pela doença anteriormente, mulheres não estejam grávidas ou planejem engravidar nos próximos três meses, e que os voluntários morem perto de um dos 12 centros de pesquisa que conduzirão o projeto.

De acordo com o governo estadual, o Instituto Butantan está adaptando uma fábrica para a produção da vacina. A capacidade de produção é de até 100 milhões de doses.


A inscrição e triagem inicial dos voluntários foram realizadas pela internet. Cada centro de pesquisa ficará responsável pelas informações coletadas dos voluntários, que serão sigilosas.


A parceria entre o laboratório chinês e o Butantan foi anunciada no dia 11 de junho. Na ocasião, o governador João Doria (PSDB) disse que, se comprovada a eficácia e segurança da vacina, ela será disponibilizada no SUS a partir de junho de 2021.


Oxford x Sinovac

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas disse no final de julho que a diferença entre as vacinas contra a Covid-19 produzidas pelo laboratório chinês Sinovac e a universidade britânica Oxford é a tecnologia usada na produção.


“As tecnologias usadas na produção das vacinas são tecnologias diferentes. A tecnologia da vacina que nós estamos desenvolvendo é uma tecnologia tradicional. Então, ela já foi usada na produção de outras vacinas aqui no Butantan como a vacina contra raiva humana que nós produzimos e contra a dengue. É uma tecnologia usada tradicionalmente na produção de vacinas. Então, isso mostra que a produção de vacinas para outras doenças infecciosas como essa tecnologia tem um perfil de segurança testada, aprovada por organismos internacionais e em uso", explicou.

"A vacina de Oxford é uma tecnologia nova que não foi ainda utilizada na produção de outras vacinas, que não foi ainda utilizada em outras vacinas, que poderá ser até uma evolução na produção de vacinas. Mas além da demonstração e eficácia, ela precisará ter o seu processo produtivo validado por esses institutos", concluiu ele.


CoronaVac

A vacina da Sinovac já foi aprovada para testes clínicos na China. Ela usa uma versão do vírus inativado. Isso quer dizer que não há a presença do coronavírus Sars-Cov-2 vivo na solução, o que reduz os riscos deste tipo de imunização.


Vacinas inativadas são compostas pelo vírus morto ou por partes dele. Isso garante que ele não consiga se duplicar no sistema. É o mesmo princípio das vacinas contra a hepatite e a influenza (gripe).


Sendo assim, a vacina implanta uma espécie de memória celular responsável por ativar a imunidade de quem é imunizado. Quando entra em contato com o coronavírus ativo, o corpo já está preparado para induzir uma resposta imune.


Cientistas chineses chegaram à fase clínica de testes – ensaios em humanos – em outras três vacinas. Uma produzida por militares em colaboração com a CanSino Biologics, e mais duas desenvolvidas pela estatal China National Biotec.




G1

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