À esquerda, animais debilitados em curral; ao lado, um dos mortos ao lado de riacho (Foto: ONG SOS Animais/Divulgação)
Um caso explícito de
maus-tratos que já resultou na morte de um número indefinido de jumentos –
fala-se até em centenas – tem causado perplexidade em Itapetinga, cidade do
Sudoeste da Bahia conhecida pela forte atuação na pecuária.
O jumento ainda tenta
se levantar, mas não consegue devido ao peso que está por cima. Outros são
jogados num riacho que deságua no Rio Catolé, muito utilizado para diversas
atividades pela comunidade itapetinguense e da região.
Situação preocupante
A Polícia Civil, por
meio do delegado Antonio Roberto Júnior, coordenador da 21ª Coordenadoria de
Polícia do Interior (Coorpin), em Itapetinga, informou que esteve no local e
que foi feita uma perícia para constatar os problemas.
“Realmente, a
situação lá é muito preocupante. Visualmente, vimos uns 15 animais mortos, mas
só a perícia é que vai nos dizer com certeza quantos são, bem como apontar se
foram vítimas de maus tratos”, disse o delegado.
Roberto Júnior
informou que os chineses responsáveis pelos abates, com o auxílio de um
intérprete, negaram que estariam cometendo maus-tratos. Depois de ouvidos, os
asiáticos foram liberados.
Não ficou claro,
disse o delegado, se eles aproveitam a carne ou o couro dos animais. Na China o
apelo maior pelos jumentos é pelo couro, onde há uma substância de muito
interesse da indústria farmacêutica chinesa, por ser supostamente afrodisíaca.
“Estão trazendo
animais que eram usados para tração em propriedades e estão matando. A situação
deles é a pior possível. Um absurdo o que está acontecendo aqui nesse lugar”,
disse a ambientalista Solange Oliveira, da SOS Animais.
“Estimamos que mais
de 300 animais já tenham morrido de fome e de sede”, calculou ela.
A fazenda, de 9
hectares, onde estão os animais, “não possui locais de sombra, o que deixa os
jumentos mais estressados ao chegarem de viagem”.
“Eles já chegam com
fome e com sede, ficam num lugar quente, adoecem e morrem. Alguns deles são
enterrados pela metade, estão em decomposição, outros no riacho boiando. Está
um lugar horrível”, disse Solange.
MP-BA acompanha
O caso está sendo
acompanhado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), que instaurou inquérito
para apurar o caso. Nessa terça-feira (4), o promotor Gean Carlos Leão enviou
ofícios à Secretaria Municipal de Meio Ambiente, à Agência de Defesa
Agropecuária da Bahia (Adab) e à Delegacia de Polícia local para saber as
providências.
O promotor requisitou
à secretaria que inspecione a propriedade rural Fazenda Barra da Nega para
verificar eventual licenciamento da área destinada ao confinamento e o suposto
dano ambiental acarretado pela morte dos animais e destinação inadequada das
carcaças.
Foi requisitado à
Adab que inspecione a fazenda e o frigorífico Sudoeste para averiguar as
condições sanitárias dos animais, identificando eventuais irregularidades. À
Delegacia, o promotor solicita que seja encaminhada cópia do Boletim de
Ocorrência em que foram registrados os maus-tratos a que estariam submetidos os
jumentos na Fazenda Barra da Nega.
Providências
A Prefeitura de
Itapetinga informou que a Vigilância Sanitária Municipal esteve na sexta-feira
na área onde estavam confinados os jumentos que seriam abatidos, e que junto
com a Adab e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente “inspecionou a área e fez
intervenções importantes para a saúde pública e para o bem estar dos animais”.
“Preocupada com
possíveis infecções causadas pela decomposição dos animais mortos, a prefeitura
disponibilizou máquinas para fazer a limpeza do Rio Catolé e das valas naturais
de águas pluviais, retirou carcaças dos bichos e os enterrou em valas cobertas
com cal, como ditam as regras sanitárias. Para proteger os animais vivos, a
administração municipal levou comida e água em carros pipa”, diz a nota enviada
ao CORREIO.
“Ao final, assim como
a Adab, a Secretaria de Meio Ambiente emitiu auto de infração e multa à empresa
responsável pelo frete e confinamento dos animais antes de irem ao abate”,
completa.
“A Prefeitura de
Itapetinga repudia toda e qualquer ação de maus tratos a animais ou que possa
por em risco a saúde da população e segue atenta às questões do município, pronta
para tomar as providências cabíveis ao poder público, visando o bem estar do
povo”, afirma a nota.
A Adab de Itapetinga
informou que se reunirá nesta quarta-feira (4) com o MP-BA para informar sobre
providências tomadas no local, mas não deu detalhes.
O Frigorífico
Sudoeste, por sua vez, declarou que apenas está realizando o abate dos animais
e que trabalha em conformidade com as normas sanitárias do Ministério da
Agricultura.
FONTE: RECÔNCAVO NOTICIA / CORREIO 24 HORAS
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