A estrutura do poder
imperial, que possuía um caráter centralizador, não permitia que as províncias
tivessem autonomia – fato que desagradava elites regionais, como a dos
fazendeiros do oeste paulista. Estes últimos também ficaram insatisfeitos com a
abolição da escravatura, que ocorreu no ano de 1888, pois não foram indenizados
pelo império. Além disso, havia insatisfação também entre os militares, que
almejavam, em grande parte, imbuídos de ideais positivistas e republicanos, uma
república autoritária e modernizadora.
Havia também o grupo
dos civis defensores do republicanismo e do abolicionismo, notável em suas
ferrenhas críticas à estrutura do poder imperial. Nomes como os dos jornalistas
Quintino Bocaiuva e Silva Jardim destacaram-se nesse processo. Esse último caracterizou-se
por uma postura mais radical e revolucionária, enquanto o primeiro procurou
articular os vários interessados na derrubada do Império com o objetivo de
fazer uma transição o menos violenta possível. Vale ressaltar que o movimento
abolicionista não se restringia e nem estava vinculado direntamente a ideias
republicanos. Grande parte dos abolicionistas apoiavam o Império e, diga-se de
passagem, foi o próprio império que gradativamente estruturou as medidas
abolicionistas, que culmiram com a Lei Áurea, em 1888.
Bocaiuva, ao lado de
outro jornalista republicano, Aristides Lobo, foi, então, um dos principais
responsáveis pela união dos interesses que almejavam o fim do reinado de Pedro
II, tanto de militares e fazendeiros quanto de revolucionários republicanos. Em
meados de 1889, após os membros republicanos do Parlamento terem rejeitado as
propostas reformistas de Pedro II, que pretendia conservar-se no poder,
Bocaiuva e Aristides Lobo começaram suas articulações e, em novembro,
associaram-se ao Marechal Deodoro da Fonseca, principal chefe do exército
brasileiro, e prepararam o golpe que foi dado no dia 15.
Após a Proclamação da
República, Deodoro confeccionou uma notificação que foi encaminhada à família
real, cujo conteúdo ordenava a saída do imperador e sua família do país. O
processo da passagem do Império à República já foi largamente estudado por
historiadores, desde o fim do século XIX até os dias de hoje. O impacto desse
evento na época está bem documentado e revela o caráter de quase incredulidade
da maior parte da população, princialmente da capital à época, Rio de Janeiro,
que viu, em poucos dias, o ocaso do Império, como pode ser observado neste
relato do jornal carioca Novidades:
“Todo o movimento
social da cidade acha-se paralisado. O comércio em grande parte fechou as
portas. As ruas mais frequentadas estão desertas; raros transeuntes passam,
apressados, como perseguidos. […] O serviço de bondes é feito com grande
irregularidade; há longos intervalos no trânsito dos carros, que chegam aos
pontos de estação aos grupos de cinco e seis. […] O pânico anda no ar e nas
consciências.” (Novidades [jornal]. Rio de Janeiro, 15 nov. 1889)
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