Há trinta anos, mais
precisamente no dia 19 de fevereiro de 1989, o estado parou para comemorar o
título brasileiro conquistado pelo Bahia, ao assegurar o empate contra o
Internacional por 0 a 0 no Beira Rio, após vencer, de virada, o primeiro jogo
por 2 a 1 na Fonte Nova. Sob o comando de Evaristo de Macedo e do craque Bobô,
o grupo conquistou o segundo troféu nacional do clube, que anteriormente havia
vencido a Taça Brasil de 1959 sob o Santos, do astro Pelé.
Além de colocar o
Tricolor sob os holofotes da mídia nacional, a conquista mostrou, sim, que era
possível um time do Nordeste vencer o Campeonato Brasileiro, feito que não se
repete desde então. À época, o grupo driblou a falta de estrutura e os baixos
salários atrasados com bom futebol.
“Não tínhamos nem
sequer treinador de goleiros. Ganhamos pela garra, pela torcida, pela direção
do clube. Ganhamos o título com dois meses de salário atrasado, vivíamos do
bicho que era pago. Tinha até calculadora no banco de reservas. E o bicho era
pago no vestiário. Hoje temos um grupo de Whatsapp, em que a gente se fala. São
memórias boas que hoje estão na história do clube”, revelou Bobô, em entrevista
concedida ao Bar F.C, em 2017.
Foto: reprodução/
Erik Salles
O ex-atacante
Charles, integrante do elenco que assumiu o lugar do então titular Renato,
concordou com o ex-meio-campista e afirmou que a ambição foi outro fator
fundamental para a conquista. “Tinha muitos jogadores oriundos da base,
jogadores da Bahia e jogadores que sabiam a história do clube. Todos tinham ambição
de ganhar reconhecimento nacionalmente pela conquista, sendo valorizados em
todos os sentidos… Então, passa muito por esse perfil do grupo, onde todos
tinham o mesmo objetivo. Todos queriam vencer na vida”, falou ao Varela
Notícias.
Quem também reiterou
a ambição dos atletas jogadores foi o ex-zagueiro João Marcelo, que também
contou um fato inusitado. Na infância, ele colocou fogo acidentalmente na casa
que morou e viu o futebol como uma forma de proporcionar tudo aquilo que seus
pais perderam. “A gente ganhava muito pouco e ali era nossa possibilidade de
mudar de vida. Eu, quando tinha sete anos, toquei fogo na casa de minha mãe.
Estava chovendo e fui jogar bola na rua. Subi no guarda-roupa e toquei fogo na
casa. Depois dessa tragédia, botei na cabeça que seria jogador de futebol e
daria uma casa pra minha mãe”, comentou.
A campanha do Bahia
inicialmente foi inconstante e com muitos empates. No entanto, foi o suficiente
para garantir uma das vagas nas quartas de final da competição. A partir daí, o
Tricolor cresceu e derrubou, na sequência, o Sport, com dois empates,
Fluminense e Internacional.
Foto: reprodução/ Erik Salles
Além da elegância
sútil e dos gols decisivos de Bobô, das arrancadas de Zé Carlos, das defesas de
Ronaldo e da qualidade técnica de Paulo Rodrigues, a arrancada final se deu
graças ao trabalho realizado pelo técnico Evaristo de Macedo, ao menos foi o
que relatou o João Marcelo.
“Esse título vinha
sendo montado em 1985, 1986 e 1987. E ‘seo’ Evaristo organizou esse time,
trouxe novo métodos de treinamento da época que foi jogador de futebol e
treinador no mundo árabe. Esse foi um dos fatores que nos deu personalidade
para jogar o Campeonato Brasileiro e entender que o Bahia era um time grande e
que era igual aos principais clubes do país”, afirmou.
Reconhecimento
“59 é nosso, 88
também”. Ecoada pelas arquibancadas da Arena Fonte Nova, a música é uma clara
referência aos títulos do Campeonato Brasileiro conquistados pelo Bahia em 1959
e 1988. No entanto, apesar da cancão, o grupo achou durante muito tempo que era
pouco valorizado tanto pela torcida e dirigentes quanto pela imprensa regional.
Foto: Felipe Oliveira
“O pessoa de 59
morreu sem reconhecimento e nós, jogadores de 1988, estávamos indo para o mesmo
caminho, porque nunca houve uma comemoração do título com a mesma força que
torcida canta nas arquibancadas. Nós percebemos que estávamos indo para o mesmo
caminho, sem o reconhecimento que merecíamos pela grandeza desse título”,
revelou João Marcelo.
O medo do
esquecimento e a utilização de forma indevida da imagens dos ex-atletas
resultou na criação da Associação dos Campeões Brasileiro de 88 (ACB-88). Essa
aliança recuperou a autoestima dos ex-jogadores e contribuiu para a série de
homenagens e eventos promovidos que relembraram a importância dessa conquista.
Foto: divulgação/
Felipe Oliveira
Hoje, a ACB-88 é
parceira da atual gestão do Esporte Clube Bahia. E foi através dessa união que
surgiram os eventos do último final de
semana que relembraram a conquista nacional. Segundo Lenin Franco, gerente de
negócios do clube, a série de cerimônias é apenas o pontapé inicial do projeto
montado pela diretoria tricolor para valorização da história da instituição.
“É um marco inicial
para o projeto de resgate e valorização da história do clube”. E completou.
“Ano que vem teremos uma ação especial em relação ao título de 1959. Obviamente
a gente não consegue fazer com os jogadores porque estão quase todos
falecidos”, informou.
Seca de títulos
nacionais
Foto: reprodução/
Felipe Oliveira
Após a conquista de
1988, o Bahia até fez bonito em outra oportunidade no Campeonato Brasileiro,
mas não impôs sua força e ficou pelo caminho. No Brasileirão de 1990, o
Tricolor fez campanhas regulares duas primeiras fases e bateu o Bragantino nas
quartas de final. Entretanto, caiu na semifinal diante do Corinthians, após
perder o jogo em casa e ficar somente no empate em São Paulo.
Trinta anos depois
fica a pergunta: “um time nordestino pode vencer novamente o Brasileirão?”.
Para João Marcelo, a resposta é sim. Ele avaliou que a estrutura e organização
do clube neste momento permite sonhos maiores.
“O Bahia não
aproveitou esse título como deveria e viveu durante muito tempo somente desse
título, sem se reestruturar para conquistar a terceira estrela. Passou por uma
época que sinceramente… Mas teve que passar por tudo isso pra se organizar.
Hoje, o Bahia pode ganhar tudo. É difícil ser campeão? É, mas é possível, até
porque tem uma folha salarial alta, com cinco a sete jogadores de time de
primeira linha”. “Era difícil também em 1988 também ser campeão, porque os
outros times já estavam em nossa frente”, falou João, que ganhava um salário
mínimo à época.
Charles Fabian, por
sua vez, foi de encontro ao que afirmou o ex-companheiro, mas citou o caso do
Leicester, da Inglaterra, como exemplo. De acordo com ele, o atual formato do
torneio é prejudicial ao Tricolor.
“Neste moldes de
pontos corrido, eu acho muito difícil um time nordestino ganhar esse troféu. Um
time com o orçamento do Bahia, comparado com o Palmeiras, Flamengo, etc… Muito
difícil de levar, mas nada é impossível no futebol”, afirmou.
Relembre a campanha
do Bahia em 1988
29 jogos
13 vitórias
11 empates
5 derrotas
33 gols marcados
23 gols sofridos
Time base
Ronaldo; Tarantini,
João Marcelo, Claudir e Paulo Robson; Paulo Rodrigues, Zé Carlos, Bobô e Gil;
Charles e Marquinhos
Técnico: Evaristo de
Macedo
Quartas de final
29.jan.89 – Sport 1×1 Bahia
1.fev.89 – Bahia 0x0 Sport
Semifinal
9.fev.89 – Fluminense
0x0 Bahia
12.fev.89 – Bahia 2×1
Fluminense
Final
15.fev.89 – Bahia 2×1
Internacional
19.fev.89 –
Internacional 0x0 Bahia
VARELA NOTICIAS
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