No momento da morte, estamos ou não conscientes? Esta é uma pergunta curiosa, que cientistas de todo o mundo estão a tentar responder.
A morte começa com uma paragem cardíaca – a cessação do impulso eléctrico que cria batimentos cardíacos. Como resultado, o coração para. Mas isso “apaga” a nossa mente imediatamente? Não. De acordo com um estudo americano, a consciência mantém-se durante alguns segundos após a morte.
Há algum tempo que os cientistas estudam as EQM – “experiências de quase morte”, e entre as conclusões mais notáveis que resultaram destes estudos está a descoberta de que uma onda de electricidade invade o cérebro momentos antes da morte cerebral.
Um estudo 2013 da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, na PNAS e divulgado na altura na revista National Geographic, examinou os sinais eléctricos no interior do crânio de ratos, e permitiu concluir que, antes da morte, os animais entram num estado de hiperalerta.
O maior estudo de sempre sobre experiências de quase morte, publicado em 2014 no jornal Ressuscitation, encontrou provas de consciência após a morte por vários minutos.
Agora, os cientistas começam a pensar que as EQM são causadas por fluxo sanguíneo reduzido, juntamente com o comportamento eléctrico anormal dentro do cérebro. Assim, o famoso “túnel de luz branca” que algumas pessoas dizem ter visto quando morreram (e foram ressuscitadas) pode ter origem nesse aumento da actividade neural.
Sam Parnia, director de investigação da Unidade de Cuidados Intensivos e Ressuscitação da Universidade de Nova Iorque, está a investigar exactamente como é que o cérebro morre. Em trabalhos anteriores, o cientista estudou EQMs e realizou experiências em animais, observando-os momentos antes e depois da morte.
“Muitas vezes, as pessoas que tiveram estas experiências descrevem-se a flutuar pela sala, conscientes da presença da equipa médica a trabalhar no seu corpo. Os pacientes dizem ver os médicos e enfermeiras a trabalhar e ouvem as suas conversas, coisas que estavam a acontecer, que de outra forma não seriam conhecidas por eles”, diz Parnia.
Mas a grande questão é: se as pessoas estavam tecnicamente mortas, como sabiam o que estava a acontecer à sua volta?
De acordo com Sam Parnia, mesmo depois de a respiração e o batimento cardíaco terem parado, continuamos conscientes de 2 a 20 segundos. Esse é o tempo durante o qual o córtex cerebral – região responsável pelo pensamento, tomar de decisões, e decifrar a informação recolhida pelos sentidos – pode ficar activo sem oxigénio.
Durante este período, perdemos todos os reflexos do tronco encefálico, incluindo o maxilar e o pupilar. As ondas cerebrais do córtex tornam-se depois indetectáveis. Mesmo assim, podem passar horas até que o pensamento seja completamente desligado.
O último estudo de Parnia examina um grande número de europeus e americanos que sofreram paragem cardíaca e sobreviveram. Um dos objectivos é observar como o cérebro age e reage durante a paragem cardíaca, através do processo de morte e durante a RCP, ressuscitação cardiopulmonar.
Quanto oxigénio é preciso para reiniciar o cérebro? Como é que o cérebro é afectado após a RCP? Geralmente, quando o coração para de bater, a RCP proporciona cerca de 15% do oxigénio necessário para realizar a função normal do cérebro. Quanto mais tempo passa, mais células cerebrais continuam a morrer, mas a uma taxa mais lenta.
Assim, aprender os nossos limites pode melhorar as técnicas de ressuscitação, o que pode salvar inúmeras vidas por ano.
“O que estamos a fazer é estudar a mente humana e a consciência no contexto da morte, para perceber se continua depois de termos morrido há algum tempo – e como isso se relaciona com o que está a acontecer dentro do cérebro em tempo real”, explica Parnia.
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