Pelo menos dez deputados estaduais baianos pretendem trocar
a Assembleia Legislativa pelo Congresso Nacional a partir de 2019. De olho em
uma promoção na carreira política, os parlamentares costuram uma candidatura a
deputado federal nas eleições do próximo ano e trabalham, nos bastidores, para
viabilizar seus nomes na corrida pela Câmara.
Quatro deles estão em processo mais avançado e confirmam
presença no páreo por Brasília, enquanto outros cinco caminham com cautela, já
que ainda dependem de articulações para tentar o salto. Por sua vez, o deputado
Manassés, que recentemente trocou o PSL pelo Pros, diz que sua candidatura está
99,9% certa, mas que faltam “pequenos detalhes” a serem definidos com a nova
legenda.
Mais votado em 2014, Marcelo Nilo (PSL) garante que brigará
pela Câmara dos Deputados. Com 28 anos na Assembleia, dez deles como presidente
da Casa, Nilo conta que desistiu da vaga na chapa majoritária do governador Rui
Costa (PT). “Sou realista, vou para federal. A chapa está fechada. Então, vou
seguir outro rumo”, pontua. Ele só não decidiu se permanece no PSL. “Tenho seis
meses para definir”, complementa. Segundo mais votado em 2014, Pastor Sargento
Isidório trocou o PDT pelo comando do Avante na Bahia e também se coloca como
nome certo na disputa pelo Congresso. Para Isidório, sua vida política e
eleitoral é direcionada por Deus. “É uma possibilidade para ampliar esse
trabalho de tratamento de dependência química, de luta contra as imoralidades”,
comenta, sobre uma eventual atuação parlamentar em Brasília. Lacuna
Líder do governo na Assembleia há sete anos, Zé Neto (PT)
decidiu recentemente aceitar o “desafio” de tentar uma cadeira na Câmara. “A
cidade tem grande potencial para nosso campo. É um novo desafio, que relutei em
aceitar por questões familiares”, conta Zé Neto, que presidiu as comissões de
Constituição e Justiça e do Meio Ambiente. Mais votado em Feira de Santana para
estadual, o petista aposta na lacuna deixada por candidatos a federal da
cidade. O melhor colocado em 2014, Colbert Martins (PMDB), é vice-prefeito do
município e deve assumir o comando da cidade, caso se confirme a saída do
prefeito José Ronaldo (DEM) para a disputa pelo Senado em 2018.
Com menos experiência, Heber Santana (PSC) também garante
que vai tentar a ascensão na carreira. Suplente em 2014, Heber assumiu o
mandato na Assembleia este ano, após a eleição de Vando (PSC) para a prefeitura
de Monte Santo. “Tenho como característica manter boa relação com a
militância”, diz o deputado, ligado aos evangélicos.
No primeiro mandato, Manassés foi eleito com pouco mais de
36 mil votos em 2014 e sabe que precisará ampliar as bases para conseguir vaga
no Congresso. “Tenho conseguido apoios e conversado bastante com lideranças”,
destaca. Ele diz que sua pré-candidatura deve atingir o 100% até novembro,
quando o Pros realiza uma convenção para anunciar os novos integrantes do
partido.
Quase lá
No grupo dos indecisos, estão os deputados Adolfo Viana
(PSDB), Joseildo Ramos (PT), Leur Lomanto Júnior (PMDB), Marcell Moraes (PV) e
Robinho (PP). Segundo mais votado entre os tucanos em 2014 (atrás de Soldado
Prisco, hoje no PPS), Viana é uma das apostas do partido, que deve perder dois
dos três deputados federais - Jutahy Júnior pode tentar o Senado e Antonio
Imbassahy está na iminência de deixar a sigla. Ele diz que a decisão será
tomada junto com a sigla. “Provavelmente serei candidato a federal, mas ainda
não está 100%. As convenções estão vindo. Vamos tratar disso lá”, pontua.
Ex-prefeito de Alagoinhas, Joseildo tem a candidatura
bancada pelo governador Rui Costa (PT), mas ainda não decidiu. “Existe essa
expectativa, mas ainda está indefinido”, pondera. Líder da oposição na
Assembleia, Leur Júnior está nos planos do PMDB para a bancada federal – hoje,
a legenda conta apenas com Lucio Vieira Lima. Ele tem articulado desde o ano
passado apoio para ganhar musculatura até 2018.
Robinho só entrará no jogo se o deputado federal Ronaldo
Carletto (PP) - seu padrinho político - consiga viabilizar uma candidatura ao
Senado. Já Marcell Moraes aposta na possibilidade de dobradinha com o vereador
licenciado e secretário municipal do Trabalho, Esporte e Lazer, Geraldo Júnior
(SD), que pode tentar uma vaga na Assembleia.
Caminho inverso
Na contramão dos deputados estaduais que planejam ir para
Brasília, outros parlamentares da Câmara decidiram deixar o Congresso e
analisam uma eventual candidatura à Assembleia. O deputado Fernando Torres
(PSD) e Irmão Lázaro (PSC), terceiro e quarto mais votados em Feira, analisam
esse retorno. Roberto Britto (PP) deseja
ficar mais próximo de suas bases eleitorais.
Renovação
Para alçar voos mais altos, os deputados estaduais apostam,
além da experiência adquirida na Assembleia, no desgaste do Congresso provocado
pela crise política nacional. O que, acham, vai gerar grande percentual de
renovação na Câmara. Aqueles que fazem oposição ao governo Michel Temer (PMDB)
dizem que a votação das reformas trabalhista e da Previdência também vai
afetar.
Marcelo Nilo defende a tese. Ele acredita que a rejeição a
Temer também vai influenciar. “O deputado que ficar com Temer vai ter
dificuldade de se reeleger. O povo está muito politizado, tem acesso às redes
sociais e não concorda com as reformas”, analisa.
Zé Neto é outro que aposta no percentual alto de renovação.
“Principalmente nos campos mais conservadores, as pessoas não se sentem
representadas”, afirma. “Temos ainda um cenário favorável com candidaturas
muito competitivas do PT no Brasil e Bahia”, emenda. Já Manassés vê um momento
propício para quem quer ser candidato a deputado federal. “Acredito que a
renovação vai ser grande por causa dessa turbulência em Brasília. O povo quer
novas caras”, diz.
Para Joseildo Ramos, o cenário é favorável para candidaturas
petistas, mesmo com as denúncias contra o ex-presidente Lula e outros membros
do partido. “Há um ano, uma série de incógnitas estaria rondando nossas
cabeças. Hoje, a população sabe quem de fato está votando contra ela”, diz.
Fora do jogo
Dois deputados estaduais do PT decidiram não tentar a
reeleição em 2018. Com pouca experiência no Legislativo, Luiza Maia (com dois
mandatos) e Gika Lopes (eleito para o primeiro em 2014) já se declaram fora da
disputa do ano que vem. Empresário, Gika alegou a dirigentes do partido que vai
se dedicar aos negócios e às questões particulares.
Luiza diz que a decisão parte de uma convicção pessoal.
“Sempre defendi dois mandatos parlamentares. Então, vou praticar o que defendo.
Cumpri meu papel nesses dois mandatos”, argumenta. Professora do estado e do
município de Camaçari, ela conta que vai se dedicar ao ensino e à militância
nas causas que apoia, como os direitos das mulheres.
Além disso, a deputada se disse desapontada com aAssembleia
Legislativa. “Tenho várias críticas ao Parlamento, que apresenta resquícios da
ditadura. Se brincar, ficamos só homologando projeto do Executivo”, pontua. “É
uma zona de conforto muito grande, é muito pouco o que produzimos, mais em
função dos limites legais. Não podemos apresentar, por exemplo, projetos que
demandam despesa ao estado”, afirma.(CORREIO)
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