O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recusou nesta quarta-feira, 15, a demissão de um de seus mais próximos colaboradores, sem negar que seu próprio destino está por um fio devido aos enfrentamentos com o presidente Jair Bolsonaro pela gestão da crise do novo coronavírus.
Horas antes, o ministério da Saúde tinha anunciado que "o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira, pediu demissão".
O anúncio ocorreu depois que o jornal Folha de S. Paulo vazou uma carta na qual o secretário, peça-chave na estratégia de combate do ministério à Covid-19, anunciava a saída iminente de Mandetta.
"Finalmente chegou o momento da despedida. Ontem tive reunião com o Ministro e sua saída está programada para as próximas horas ou dias", escreveu Oliveira, segundo o jornal.
Mas Bolsonaro não se pronunciou até o fim da tarde e Mandetta decidiu recusar a demissão, segundo anunciou na coletiva de imprensa da qual participou ao lado de Oliveira para atualizar as informações sobre a pandemia no Brasil.
"Já falei que não aceito (a demissão). O Wanderson está aqui, acabou esse assunto. Vamos trabalhar juntos até o momento de sairmos juntos do ministério da Saúde", disse Mandetta.
Oliveira tem 15 anos de carreira no Ministério da Saúde. Especializado em epidemiologia, coordenou ações durante crises anteriores de saúde no Brasil, como a do H1N1 e do zika.
Segundo a Folha, a carta foi enviada após Mandetta, um ortopedista de 55 anos, informar sua equipe de que seria demitido esta semana, uma ameaça que o cerca há dias em meio a choques com Bolsonaro.
Semanas de confronto
Mandetta defende o isolamento social para prevenir a propagação da Covid-19 e evitar o colapso no sistema de saúde, enquanto Bolsonaro pede a flexibilização das medidas e critica os efeitos negativos das mesmas para a economia.
As relações entre o presidente e seu ministro se deterioraram ainda mais quando Mandetta, em uma entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo, no último domingo, criticou as orientações contraditórias dadas à população para enfrentar a pandemia.
É necessário ter uma "fala unificada", porque o contrário "leva para o brasileiro uma dubiedade, ele não sabe se escuta ao ministro da Saúde ou se ele escuta ao presidente".
O ministro admitiu nesta quarta que as políticas propostas estão claramente descompassadas, mas reiterou que só deixará o cargo em três circunstâncias: se o presidente não quiser mais seu trabalho, se tiver algum problema de saúde ou quando ele sentir que o trabalho não é mais necessário porque foi superado o estresse da crise.
"Todas essas alternativas continuam e são válidas", declarou, mas reforçou que a equipe vai trabalhar em 100% de suas possibilidades.
Ao mesmo tempo, Bolsonaro publicou no Twitter um gráfico que mostra que o Brasil tem, proporcionalmente, um número de mortos muito inferior com relação aos países europeus afetados pelo vírus.
Segundo a imprensa, Bolsonaro avalia uma lista de candidatos para substituir Mandetta, entre eles o diretor da Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Torres, e a pesquisadora Ludhmilla Hajjar, diretora de Ciência, Tecnologia e Inovação da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
O Brasil registra nesta quarta 1.736 mortes por coronavírus e 28.320 infectados. Segundo o Ministério da Saúde, o pico da pandemia deve ocorrer entre o final de abril e o início de maio.
AFP
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