quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Raul Seixas ainda é uma lenda 30 anos após a morte do artista




O persistente culto à memória, à obra e à ideologia de Raul Santos Seixas (28 de junho de 1945 – 21 de agosto de 1989) referenda o mais batido dos clichês usados para se referir a artistas que saíram de vida para entrar na história. Sim, Raul Seixas vive!



A morte do artista baiano completa 30 anos nesta quarta-feira, 21 de agosto de 2019. Ao sair de cena na cidade de São Paulo (SP), dias após lançar A panela do diabo (1989), álbum gravado com o discípulo Marcelo Nova, o Maluco Beleza já estava debilitado fisicamente e, justamente por conta dos problemas de saúde, já amargava declínio na trajetória artística, ainda que tenha gravado discos com regularidade de 1971 a 1989.



Só que, ao morrer, Raul Seixas deixou, além da obra original, uma ideologia. É por elas que o nome do cantor e compositor permanece envolvido em aura mitológica 30 anos após a morte de Raul.


Roqueiro brasileiro que idolatrava tanto o seminal Elvis Presley (1935 – 1977) quanto o patrício Luiz Gonzaga (1912 – 1989), rei da nação musical nordestina que curiosamente também saiu de cena em agosto de 1989, Raul Seixas deu identidade nacional ao rock, expondo afinidades do gênero com o baião, para citar somente um exemplo de alquimia sonora.


Não foi o primeiro a ter tal atitude, mas, no rastro do caminho tropicalista aberto pelo grupo Os Mutantes entre 1968 e 1972, Raul debutou sozinho no mercado fonográfico em 1973 com álbum solo que ousava cruzar o rock até com estilizado ponto afro-brasileiro na música Mosca na sopa (Raul Seixas, 1973).


De fato, o artista foi a mosca que pousou na sopa da entronizada MPB da década de 1970. Nesse álbum antológico de 1973, Krig-ha, bandolo! , Raul já iniciou a parceria com Paulo Coelho, conexão que deu o norte do quatro primeiros (e melhores) álbuns da discografia solo do cantor. Mas assinou sozinho Ouro de tolo, pedra mais preciosa do disco pelo jorro verborrágico de letra que, sem dar nomes aos bois, questionou a felicidade proporcionada pelo bens de consumo em plena era do alardeado milagre econômico brasileiro.


Raul Seixas foi politizado, metafísico, filósofo, idealista e irônico. Todas essas faces do complexo artista estão entranhadas em cancioneiro autoral que, a partir do álbum O dia em que a terra parou (1977), começou a soar mais irregular.


Ainda assim, os acertos eventuais – como Aluga-se (1980), corrosivo rock do álbum Abre-te Sésamo (1980), e como Cowboy fora da lei (1987), ambas músicas assinadas pelo compositor com o parceiro carioca Cláudio Roberto, também coautor do hino Maluco beleza (1977) – contribuíram para a idolatria em torno do nome de Raul Seixas, ainda em vida e sobretudo após a morte do artista.


Raul Seixas é tão lenda em 2019 que duas biografias – Raul Seixas – Por trás das canções e Raul Seixas – Não diga que a canção está perdida, escritas pelos jornalistas Carlos Minuano e Jotabê Medeiros, respectivamente – chegam ao mercado literário neste segundo semestre do ano para tentar jogar alguma nova luz sobre a vida e a obra do artista.


Atentos às histórias que vieram realimentando o culto ao cantor ao longo desses 30 anos, os seguidores de Raul Seixas ainda se renovam pelos canais da internet. O que talvez explique, em parte, a força da lenda.


Não tivesse morrido em 1989, Raul Seixas talvez tivesse tido a chance de festejar 74 anos de vida em 28 de junho de 2019. Idade inferior à do público que o cultua e que grita "Toca Raul!" nos shows de artistas de vários estilos. É por isso que, nesse caso, o clichê é verdadeiro: Raul Santos Seixas vive!




POR MAURO FERREIRA G1

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