O pré-candidato à
Presidência do PSL, Jair Bolsonaro, declarou que deseja aumentar de 11 para o
21 o número de ministros do Supremo Tribunal Federal caso seja o vencedor das
eleições 2018. Juristas ouvidos pelo Estado avaliam que a medida é
inconstitucional e dificilmente prosperaria.
Até 2022, o futuro
presidente poderá indicar pelo menos dois ministros para a Corte. O decano
Celso de Mello completa 75 anos em 2020 e o magistrado Marco Aurélio Mello, em
2021. Por isso, ambos terão de se aposentar compulsoriamente.
Em entrevista à TV
Cidade, de Fortaleza (CE), Jair Bolsonaro afirmou que as decisões do Supremo
têm envergonhado o País nos últimos anos, daí a necessidade de mudanças. Sua
ideia seria indicar pessoas com atuação similar à do juiz Sérgio Moro.
"Com pessoas do perfil dele, a gente muda as decisões do Supremo, que
lamentavelmente têm envergonhado a todos nós nos últimos anos", disse.
"Temos discutido aumentar para 21 (o número de ministros). É uma maneira
de botar dez isentos lá dentro".
Para que a mudança
ocorra, há duas possibilidades. A primeira seria a aprovação de uma nova
Constituinte e a outra, de uma proposta de emenda constitucional (PEC).
Professor de direito constitucional da FGV-SP, Roberto Dias qualifica a
proposta do pré-candidato como inconstitucional porque ela violaria uma das cláusulas
pétreas da Constituição, que protege a separação entre os três poderes.
"Se o chefe do Executivo propõe uma PEC como essa e o Congresso aprova,
esses dois poderes estariam impondo uma intervenção indevida no STF",
avalia.
"Seria uma
maneira de reforçar o poder do Executivo, que imediatamente teria a
possibilidade de nomear dez novos ministros e diluir a força do STF",
afirma Dias. Para ele, trata-se de uma estratégia autoritária que lembra
episódios ocorridos na América Latina nas últimas décadas. Em outubro de 1965,
o governo militar brasileiro implantou o Ato Institucional 2 (AI-2), que, entre
outras medidas, ampliou de 11 para 16 o número de ministros na Corte para
garantir maioria nas votações.
Em 2004, o então
presidente venezuelano Hugo Chávez elevou de 20 para 32 os magistrados da
Superma Corte de seu país com o mesmo objetivo. "Nos dois casos, houve por
esses regimes ditatoriais, um de direita e um de esquerda, mudança no número de
ministros com intenção de enfraquecer o Judiciário, o que é típico de um
período de restrição de direitos e autoritarismo", afirma Dias.
O advogado
constitucionalista Adib Abdouni reforça que não é papel do presidente tentar
aprovar uma medida como essa e acredita que dificilmente ela seria aprovada.
"O número de ministros está na Constituição. Para qualquer mudança, teria
que abrir uma nova Constituinte. Não vejo futuro para isso."
Juliano Zaiden
Benvindo, coordenador do Centro de Pesquisa em Direito Constitucional Comparado
da Universidade de Brasília (UnB), diz que o texto constitucional do Brasil
poderia barrar facilmente essa proposta com vários argumentos. "É
praticamente um golpe dentro do sistema democrático. O STF pode declará-la como
inconstitucional com base na cláusula pétrea de separação dos poderes, porque
estaria quebrando o equilíbrio".
Benvindo diz que
mudanças na indicação dos ministros e no número de magistrados ocorreram em
países que estão passando por um processo de decadência democrática como
Hungria, Polônia e Turquia, onde presidentes autoritários têm fortalecido seus
poderes. "Essa estratégia de controle da Corte Constitucional busca criar
um alinhamento com o governo", explica.
Segundo o professor
da UnB, mesmo que uma emenda seja aprovada pelo Congresso, o Supremo tem
ferramentas para impedir essa tese. "É só discurso", diz. A avaliação
de Marina Coelho Araújo, professora de Direito do Insper, é semelhante. Para
ela, trata-se de retórica eleitoreira de difícil realização. "Não há
fundamento técnico baseado na legislação brasileira para o aumento do número de
ministros. É uma afirmação que ele não pode cumprir", diz. "Se ele
está pensando em trabalhar dentro da lógica constitucional, isso não vai
acontecer", afirma.
Debate mais amplo
A constitucionalista
Vera Chemim acredita que a ideia do pré-candidato permite um debate mais amplo.
Ela defende uma mudança no critério de aprovação dos ministros que vá além da
indicação do presidente. "Nos Estados Unidos, o presidente indica e o
Congresso faz efetivamente um debate, podendo aprovar ou vetar uma indicação.
Aqui até se faz, mas sabemos que é algo mais convencional, porque vai ser mesmo
aquela (indicação)".
Na avaliação de Vera,
a estratégia de Bolsonaro, de querer acrescentar mais 10 magistrados, seria
interessante caso houvesse de fato uma preocupação em aumentar a pluralidade de
visões dentro do STF. "Haveria mais multiplicidade de posições que
poderiam favorecer as demandas que chegam ao tribunal". O professor
Roberto Dias, da FGV-SP, diz que, na teoria, o aumento da pluralidade de ideias
é saudável, mas não parece ser essa a intenção da proposta. "Parece o
contrário, na medida em que ele quer nomear ministros com um perfil
específico."
TB
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