Estreante na
televisão pela novela da Globo, “Segundo Sol”, a atriz baiana Cláudia di Moura
não abre mão da sua paixão pelo teatro. Nascida em Salvador, entre palcos de
espetáculos e telas de cinema, já soma cerca de 33 anos de carreira, quatro
indicações e uma vitória no Prêmio Braskem de Teatro. No folhetim, ela é a
cozinheira Zefa, uma mulher calma e conformada, que esconde um grande segredo
do seu filho. Mas na vida real, Cláudia passa bem longe disso ao defender a
arte e a representatividade do negro na dramaturgia.
Em entrevista ao
Portal A TARDE, Cláudia falou sobre teatro, premiações, preconceito e planos
futuros, além de comentar a polêmica sobre racismo envolvendo a trama global
das 9, que chegou a receber uma notificação do Ministério do Trabalho a
respeito da falta de diversidade na história que é ambientada em Salvador. A
atriz também falou sobre as amizades que fez nessa trajetória e as dificuldades
que encontrou na profissão por ser mulher, negra e nordestina: “Tive a sorte de
ter conseguido ao longo da minha carreira no teatro, uma diversidade muito
grande de papéis. Mas eu sei que não é assim com todo mundo”.
Cláudia, além de ser
atriz, você é estilista. Como surgiu essa vocação? Atualmente, ainda trabalha
com a confecção de roupas?
Ser mãe de meninas às
vezes te faz brincar de boneca depois de adulta. E diante das dificuldades que
a vida artística impõe, eu transformei essa brincadeira em coisa séria e
conquistei a confiança de grandes nomes da música baiana para compor seus
visuais. É algo que eu tenho muito prazer em fazer até hoje.
Você foi indicada e
premiada tanto no teatro, como no cinema. Qual a sensação de ser tão
consagrada?
O reconhecimento é
importante, é algo que o artista deseja, uma das recompensas por esse trabalho
tão intenso que é viver outras vidas no palco, nas telas. Outras vidas que não
são minhas, mas que têm bastante de mim.
Você passou um longo
tempo atuando nos palcos. Como e por quê resolveu migrar para a TV?
Passei não, passo.
Estar na TV não me tira dos palcos, muito pelo contrário. É um piso sagrado,
onde eu preciso estar pra me conectar com a energia da terra, as emoções
fundamentais da humanidade. De modo algum fiz uma migração para a TV. Sou uma
mulher do teatro, e levo esta formação para a televisão também.
Houve alguma
dificuldade nessa transição?
Nenhuma. Fui muito
bem-recebida por toda a equipe, principalmente pelo Dennis Carvalho e pela
Maria de Médicis. O elenco é uma família, sintonizada na mesma energia. De
resto, é só arregaçar as mangas, estudar o texto e dar o melhor de si.
E sendo uma estreante
em novelas, como foi a recepção por parte do elenco?
Como eu disse, somos
uma família. Desde o início fui meio que adotada como mãe pelos mais novos, e
conquistei o respeito e a admiração daqueles a quem eu sempre respeitei e
admirei. Isso é reconfortante, é uma realização.
Diante desse
acolhimento, acabou se tornando amiga de alguns colegas de cena?
A Deborah (Secco) é
uma irmã pra mim, foi quem primeiro me acolheu nessa jornada. A minha relação
com a Cássia Kis é uma história de outras vidas. Nesta vida, nós nos conhecemos
ao fazer Segundo Sol. E tem o Fabrício (Boliveira), que é meu filho em cena, e
que fora dela, é meu amor.
Como atriz, já sofreu
algum tipo de preconceito por ser mulher, baiana e negra?
O preconceito veio
primeiro por ser atriz, porque nesse sistema em que a gente vive, muitos pensam
que artista não trabalha, que o ofício artístico é um hobby, um passatempo, uma
terapia ocupacional. Poucos veem como uma carreira séria. E, sendo negra e nordestina,
isso é ainda pior. Eu tive a sorte de ter conseguido ao longo da minha carreira
no teatro, uma diversidade muito grande de papéis. Mas eu sei que não é assim
com todo mundo.
Você tem acompanhado
as polêmicas envolvendo a novela sobre as questões de representatividade da
população de Salvador? O que acha deste clamor por mais atores negros na trama?
O que eu acho desse
clamor por representatividade? Acho é pouco. Não queremos só ser representados
em números, mas principalmente, com respeito. Queremos ser tratados com
dignidade pela mídia, pela crítica, pelos autores e diretores. Não vamos deixar
de reivindicar visibilidade, voz e papéis sempre mais complexos, que retratam
nossa humanidade. Além de atores, somos atores sociais.
Pretende voltar para
a Bahia após a novela? Quais são os seus projetos para quando o folhetim
acabar?
Eu tenho minha
família na Bahia, pessoas que eu amo e que me fazem falta. Claro que quero
estar perto deles, e o fim da novela vai facilitar esse processo. Porém, quando
a novela acabar, eu vou estar só começando. Tenho outros projetos, a vida segue
seu curso.
Dentre esses
projetos, já está em andamento o plano de encenar novamente com a atriz Cássia
Kiss?
No momento ainda não
posso entrar em detalhes, mas afirmo que é o sonho de duas mulheres apaixonadas
pelo palco e que se esbarraram não à toa nessa vida. Somos um encontro de almas
inquietas.
Muitos atores de
teatro almejam estar na televisão. De qual dos dois segmentos você gosta mais?
AT
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