“A gente ainda não
chorou a dor do luto, porque estamos na luta para provar que nosso pai é
inocente”. A afirmação é de Maraísa Marinho, filha do artista plástico Arnaldo
Filho, 61 anos, baleado duas vezes durante uma ação da Polícia Militar, no
município de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador.
Na manhã desta
terça-feira (24), ela e dois dos quatro irmãos, Manoel Marinho e Márcia
Cristina Marinho, foram até o Quartel da PM, no Largo dos Aflitos, para cobrar
celeridade na investigação da morte de Arnaldo, conhecido como Nadinho.
Arnaldo Filho foi
morto por PMs em seu ateliê no sábado (Foto: Reprodução)
Os irmãos se reuniram
com o coronel Anselmo Brandão, comandante da Polícia Militar, com o prefeito da
cidade, Pitágoras Alves da Silva Ibiapina, e com 16 vereadores do município. O
encontro começou às 10h e, segundo os familiares da vítima, teve resultado
"positivo".
"A gente saiu
daqui confiante, acreditando que a justiça vai ser feita. O comandante disse
que ia apurar o que aconteceu com meu pai e nos deu certeza de que o crime não
ia ficar impune. Ele nos deu a palavra dele e nós confiamos na Polícia",
afirmou Márcia Cristina.
A irmã Maraísa
reforça o desejo de elucidar a morte. "É uma dor muito grande. A gente não
aceita perder nosso pai desse jeito. Painho viveu a vida inteira com
integridade para na hora da morte dele a gente precisar ficar provando que ele
não é criminoso", comentou.
O coronel disse que
durante o encontro foi discutido com a família questões da investigação do
assassinato da vítima.
"Foi uma reunião
triste. Hoje eu me reuni com os familiares, com o prefeito e com os vereadores
de Candeias pra dizer que estamos buscando a verdade dos fatos. Já abrimos
inquérito pra apurar. Bom lembrar aqui que nós, quando noticiamos a nota,
divulgada pela PM, nós falamos de uma versão, uma versão de um policial",
afirmou Brandão, referindo-se ao primeiro comunicado divulgado pelo Departamento
de Comunicação Social (DCS) da corporação.
"Em nenhum
momento atribuímos a figura do artesão como criminoso. Até porque, não podemos
emitir nenhum opinativo. Vamos esclarecer esses fatos", completou.
O prefeito de
Candeias disse que a cidade pede "por justiça". "Não sabemos o
que fez a Polícia Militar realizar esses disparos contra esse homem de bem. Ele
sempre teve caráter. No domingo, o município amanheceu de luto. Nós queremos
celeridade na investigação", afirmou Pitágoras.
De acordo com o
vereador Edmilson Amaral, o comandante deu um prazo de 40 dias para concluir o
inquérito. "Nós estamos aqui em nome do clamor de uma cidade que não
entende a morte de um homem de bem. Acreditamos no trabalho da polícia e vamos
esperar", disse. Ainda segundo Amaral, apenas um vereador não esteve no
encontro, por questões de saúde.
Entenda o caso
O artista plástico
Arnaldo Filho, conhecido como Nadinho, morreu após ser baleado durante uma ação
da Polícia Militar dentro de seu ateliê, na noite de sábado (21), em Candeias.
Segundo os familiares da vítima, PMs entraram no imóvel e já chegaram atirando
no homem, que estaria desarmado e desenhando.
Em nota, a PM
afirmou, inicialmente, que a morte aconteceu no bairro Santo Antônio, por volta
das 20h, após equipe de militares da Operação Força Tática de Candeias
receberem um chamado através do Centro Integrado de Comunicação (Cicom),
informando que um homem havia invadido uma residência no bairro.
A PM informou que
duas equipes estiveram envolvidas nessa ocorrência, cada uma composta por três
policiais militares. "Entretanto, apenas uma estava no momento da
abordagem do imóvel, a outra equipe chegou em apoio momentos depois",
destacou a corporação.
"Ao chegarem no
endereço informado, as equipes policiais bateram à porta do imóvel e
identificaram-se como policiais militares, contudo o homem que apareceu em uma
das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo
contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios
policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição
teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com
dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax", afirmou a PM, em
nota.
A família negou que
isso tenha ocorrido. "Eles entraram na casa e plantaram uma arma. Ainda
disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de
bem que não tinha nenhum envolvimento. Ele morava nessa casa desde pequeno",
complementa o sobrinho que, junto à outros familiares, pretende denunciar a
ação policial.
Na última segunda
(23), familares do artesão fizeram um protesto na frente da delegacia de
Candeias, pedindo a prisão dos policiais envolvidos na operação. Também nesta
segunda, três dos seis policiais militares envolvidos no caso foram afastados
das atividades operacionais. De acordo com a PM, eles foram afastados para
serem acompanhados por uma equipe de psicologia do Departamento de Promoção
Social (DPS) da Corporação, contudo responderão em paralelo ao Inquérito
Policial Militar instaurado.
VARELA NOTICIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário