terça-feira, 10 de março de 2020

"A gente está com medo de ter uma gripe, a verdade é essa", diz epidemiologista sobre coronavírus


O cenário epidemiológico do novo coronavírus foi apresentado nesta terça-feira, 10, em coletiva de imprensa na Câmara Municipal de Salvador. Na ocasião, o secretário municipal de saúde, Léo Prates, e a epidemiologista e gerente do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Salvador, Cristiane Wanderley, falaram sobre o tema.

"O que é impressionante é a quantidade de casos e a velocidade de transmissão da doença, e é interessante a gente observar que quase 90% dos casos são concentrados na China. Fora da China são cerca de 25 mil casos em 101 países e cerca de 500 mortes, ou seja, uma taxa de mortalidade de mais ou menos 2%", explicou a epidemiologista.

"Não é aquela coisa de 'pegou, vai morrer'. A gente está com medo de ter uma gripe, a verdade é essa, porque 80% dos casos são um síndrome leve, característica de gripe, e apenas 20% pode evoluir para um agravamento e também já se sabe que uma boa parte desses casos pertence a faixa etária dos idosos", acrescentou ela.

Durante o evento, o secretário também afirmou que mesmo não existindo a vacina, estão sendo seguidos protocolos epidemiológicos para conter o vírus. "Se chega uma pessoa com sintomas de gripe de determinados países a vigilância epidemiológica faz o teste para o coronavírus e isso é chamado de caso suspeito. Trago esse esclarecimento, porque o caso suspeito demonstra que os protocolos epidemiológicos estão funcionando muito bem. Caso suspeito não é motivo para pânico, pelo contrário", ressaltou ele.

Léo Prates também explicou que as secretarias municipal e estadual estão se preparando desde que tiveram notícias do surgimento do vírus na China. "Como não temos vacina, identificado o coronavírus, é recomendado o isolamento em casa ou nos hospitais dependendo do estado de saúde do paciente. Com isso, Salvador e Bahia fizeram um plano de contingência que foi submetido a secretaria de vigilância do governo federal para se preparar para o coronavírus e esse plano foi elogiado com um dos melhores", disse.

Ele também acrescentou que mesmo com dois hospitais de referência também foi lançada uma portaria para Unidade de Terapia Intensiva (UTI). "Fomos além do plano de contingência. Temos dois hospitais de referência, caso eles fiquem sobrecarregados já lançamos uma portaria pagando R$1200 para UTI de isolamento".

"Além disso, o estado conseguiu centralizar os exames. E para facilitar, no final do mês vamos comprar um equipamento que pode descartar até 23 tipos de vírus respiratório", acrescentou o secretário. Após a fala de Léo Prates, Cristiane Wanderley foi chamada para esclarecer fatos mais técnicos sobre o coronavírus. "Nesse momento, a gente pede clareza com o que a gente está lidando e, sobretudo, trocar o pânico pela informação", destacou a epidemiologista.

Ao falar sobre o cenário atual, a especialista também fez alguma comparações com outra epidemias. "Não podemos deixar de lembrar que no período de 2002 e 2003 tivemos uma doença muito parecida que foi a SARS, onde o próprio coronavírus era o agente causador e esse novo vírus é uma mutação dele. Tem um similidade de 80%", explicou.

"A outra epidemia durou mais ou menos 9 meses em apenas 26 países, com 8 mil casos, diferente de agora que são mais de 100 mil casos no mundo. Por fim, o que há de diferente e mais importante nesse momento é que a SARS tinha uma letalidade alta de 10% e o COVID tá em torno de 3%, então isso já é uma vantagem enorme", completou ela.

"É importante entender o que de fato promove e favorece a ocorrência de uma emergência de saúde pública, que depende de vários fatores, como o ambiente, o hospedeiro, o patógeno e o vetor. Se observarmos a epidemia do H1N1, a gente vê que as regiões mais afetadas foram Sul e Sudeste. Temos que entender também como é a dinâmica do vírus, se é possível em regiões tropicais, onde o calor é mais intenso. E aí vem o caso do H1N1, em que o Nordeste não foi tão afetado", destacou Cristiane.

Para finalizar, a epidemiologista frisou a importância de lavar as mãos como prevenção da doença. "Lavar as mãos é muito mais importante que usar máscara, porque a máscara, inclusive, vai induzir que toda hora seja colocada a mão no rosto e precisa estar limpa"


Natália Figueiredo


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