Quase 200 anos depois,
a conquista da independência da Bahia no 2 de julho ainda é celebrada com muita
festa, principalmente no centro da capital baiana. A festa é marcada pelo
tradicional desfile que sai da Lapinha, percorre as ruas do Centro Histórico e
arrasta uma multidão até o Campo Grande. Mas quem vê a comemoração atual sendo
aclamada não imagina o tanto de modificações que a festa passou ao longo dos
anos.
Ilha de Itaparica
pioneira no desfile
O escritor e
jornalista Nelson Cadena (autor de 'Festas Populares da Bahia') lembrou que,
apesar de ser conhecida por acontecer em Salvador, a festa estreou na Ilha de
Itaparica, no dia 7 de janeiro de 1824.
"O primeiro
desfile de Salvador aconteceu no ano de 1824, no ano seguinte da independência,
mas a comemoração aconteceu primeiro em 7 de janeiro de 1824, na Ilha de
Itaparica. Esse modelo de desfile que ocorreu na Itaparica é muito parecido com
que acontece atualmente", contou o escritor.
Festa popular x
política
Segundo Cadena,
somente na década de 1830 que a comemoração ganhou ares populares. A população
começou a participar quando apareceu na cerimônia o carro do Caboclo, que ainda
é o eixo principal do desfile.
Nos últimos anos a
situação ganhou novas mudanças e a festa acabou deixando de lado um pouco o
caráter popular e se tornou político. Durante o desfile, candidatos a cargos
políticos e partidos acabam sendo o centro das atenções. "É algo novo,
candidatos participam e se destacam. Isso acontece muito em função da mídia,
principalmente das rádios, que começaram a dar muito destaque as participações
deles", disse o pesquisador.
Vaqueiros de lado
O escritor também
destacou a ausência marcante dos Encourados do Pedrão no desfile. Os vaqueiros
com figurino de chapéu e gibão de couro, além de outras peças características,
deixou de fazer parte da festa em 2010. "Eles desfilavam desde a década de
1840 e hoje não existe mais. Houve um descaso da Prefeitura e do Governo.
Ninguém quer dar um tostão para trazer eles para a capital, ninguém quis arcar
os custos", afirmou ele.
Festejo de uma semana
Se hoje em dia a
festa de grande importância para o Estado dura apenas um dia, no século XIX
chegou a ser comemorada durante uma semana. Segundo Cadena, os festejos
começavam logo após o São João e tinham o seu apogeu na véspera do Dois de
Julho quando o povo percorria as ruas portando archotes. Na data oficial, a
comemoração acontecia com gôndolas de músicos, as cavalhadas, os poetas que
distribuíam versos impressos aos transeuntes, as exaltações retóricas das
autoridades e o povo do alto das janelas e sacadas enfeitadas com mantas e
sedas, flores e folhas, saudava o préstito.
Heroína condecorada
Ao portal, o
historiador Rafael Dantas destacou a participação de uma mulher, grande heroína
do Dois de Julho, Maria Quitéria, recebendo do Império do Brasil a condecoração
da Ordem Imperial do Cruzeiro.
Na época da guerra, a
soldado Maria Quitéria abandonou o noivo, fugiu de casa e fingiu-se de homem
para se alistar no quartel de Cachoeira. Ela dominava as armas, foi notória em
combate e derrotou vários soldados portugueses.
Monumento estrangeiro
Dantas afirmou também
que o monumento ao Dois de Julho, na Praça do Campo Grande, veio da Itália e
foi inaugurado em 1895. "O monumento, um dos mais belos do Brasil, foi
esculpido na Itália pelo artista Carlo Nicoly e tem 25,86 metros de altura, com
partes em mármore e bronze. Faz referência a vitória no 2 de Julho de 1823 e
foi inaugurado em 1895, trazendo personagens com um traçado clássico, exemplo
da alegoria ao Rio Paraguaçu, uma belíssima escultura que faz referência ao
processo de lutas e o papel dos habitantes das cidades do Recôncavo,
especialmente as banhadas pelo rio."
Cachoeira, a segunda
capital da Bahia
Os baianos já sabem
que a cidade de Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, em todos os anos, é
considerada a segunda capital do Estado no dia 25 de junho. O que muita gente
não tem conhecimento é que o município, na época uma das principais cidades da
região, por onde escoava inúmeros produtos para Salvador e outros lugares
Brasil e mundo a fora, é reconhecida historicamente pelos seus feitos no
processo de independência.
Costuma-se dizer que,
naquela época, a Bahia teve duas capitais porque Salvador foi tomada pelos
portugueses, que expulsaram muitos brasileiros e os fizeram ir morar no
interior. Mesmo a capital "oficial" do Estado ter grande importância,
dependia dos alimentos que vinham de outras cidades, como Cachoeira, onde
recebeu muitas tropas do Brasil.
Proclamação na Bahia
demorou mais que a "oficial"
A guerra pela
independência na Bahia começou bem antes do que a data em que a proclamação foi
oficializada. A origem da guerra vem de 1820, durante a Revolução do Porto,
quando cidadãos portugueses começaram a exigir o retorno do rei dom João VI.
Ele deixou o país, mas enviou novos comandantes militares para o Estado. A
elite da região, no entanto, não gostou e iniciou uma batalha, durante o ano de
1822, que durou três dias, com cerca de 300 mortos.
IBAHIA.COM
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