Yuri Carlson Santana
Santos, o E.T, tem 22 anos e já matou pelo menos 20 pessoas, incluindo
policiais, segundo a Polícia Civil. Quatro de Espadas do Baralho do Crime da
Secretaria da Segurança Pública (SSP) e integrante da facção Katiara, ele foi
preso nesta segunda-feira (18), em Feira de Santana, onde foi buscar
atendimento médico para tratar de um ferimento na perna - causado por um tiro
que tomou durante confronto com a Polícia Militar, no sábado (16), no bairro de
Valéria, em Salvador.
Apresentado à imprensa
nesta quarta-feira (20), ele preferiu não fazer comentários. Com pinos na perna
direita, E.T permaneceu calado e de cabeça baixa. Conforme o coordenador da 3ª
Delegacia de Homicídios (DH/BTS) do Departamento de Homicídios e Proteção à
Pessoa (DHPP), delegado Jamal Amad, Yuri não tinha passagem por tráfico e é um
dos principais executores das mortes na região de Valéria, onde a Katiara
detém, ainda segundo a polícia, 90% do domínio do tráfico.
"Ele e esta
facção criminosa, a Katiara, eles têm sob a responsabilidade deles mais de 20
homicídios, incluindo dois policiais aposentados. Sendo que Yuri é um dos
principais executores. Ele mata, arranca cabeças, é cruel, não tem
piedade", relatou Amad, ao mencionar a morte de um morador identificado como
Moisés Paixão dos Santos que, em 2016, foi retirado de casa e levado para um
matagal - onde foi executado por Yuri e outros homens.
Na conta de E.T,
ainda de acordo com Jamal Amad, também pesam as mortes de Lenilson Bacelar
Mota, em novembro deste ano, e Jonas Pereira Cardoso, no último sábado (16) -
todos em Valéria. Yuri tinha dois mandados de prisão - sendo um preventivo e um
temporário, ambos pela morte de Lenilson. "Todos moradores inocentes. Um
deles, inclusive, era morador recente. Mas eles fizeram do bairro um tribunal
do crime, onde eles vão e executam quando bem entendem, quem eles bem
quiserem", salientou o delegado.
Em depoimento, ainda
segundo Amad, Yuri afirmou já ter pertencido à Katiara mas negou, no entanto,
ser o autor das mortes. "Ele fala que ele não é traficante, não é
homicida, não é bandido, mas não nega ser da facção. Ele é violento,
extremamente agressivo. O surpreendente é que ele já foi orientado a falar
apenas com o juiz, o que é um direito dele", comentou.
Conforme a delegada
Patrícia Brito, responsável pelas investigações, a prisão de Yuri vai
representar uma diminuição considerável nas mortes das localidades de Valéria,
Lagoa da Paixão e Palestina.
"É uma quadrilha
grande, que costuma trocar tiros com a polícia e fugir do local. E.T e seu
bando são executores assíduos. São mais de 20 homicídios apurados. Eles agem
com facas, tiros e até cachorros para intimidar suas vítimas, muitas delas
moradores inocentes, sem qualquer participação no tráfico".
Troca de tiros
A prisão de E.T começou
a se desenhar na noite de sábado (16), quando ele e o seu bando executaram o
jovem Jonas Pereira Cardoso, 21, na principal avenida de Valéria. A morte
motivou incursões das polícias Civil e Militar no bairro. "Os policiais se
depararam com Yuri e seu grupo no domingo (17), quando houve a troca de tiros.
Eles trocam [tiros] mesmo, não respeitam. E, claro, os policiais respondem e
sempre vão responder à altura", afirmou Jamal Amad.
Ferido na perna, Yuri
conseguiu fugir. Com a ajuda de familiares, ele foi a uma clínica particular no
município de Feira de Santata, onde foi identificado e preso. "Claro, ele
sabia que faríamos uma varredura nos hospitais de Salvador. Na cabeça dele,
estaria a salvo no interior, mas a PM foi acionada e fez o cerco, ainda sem
saber se havia comparsas dele lá", relatou.
Capitão da 65ª
Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Feira de Santana), major André
Cavalcante comentou que os funcionários da clínica começaram a desconfiar
depois que notaram uma movimentação estranha de carros e pessoas ao redor da
unidade de saúde. Sem resistir, Yuri foi preso por policiais do Pelotão de
Emprefo Tático Operacional (Peto) da 65ª CIPM. Ele vai responder por associação
ao tráfico, prática de homicídios e formação de quadrilha.
Léo Barata
Há um mês, outro
integrante da Katiara foi capturado em circunstâncias similares. Leonardo
Fernando dos Santos, o Léo Barata, acabou preso após buscar ajuda no Hospital
Eládio Lasserre, em Cajazeiras. Ele foi atingido por um tiro após trocar tiros
com policiais das Rondas Especiais da PM (Rondesp), na Lagoa da Paixão. Léo
segue preso no Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador. Ele responde
por tráfico, associação ao tráfico e prática de homicídios.
A prisão de Léo, de
acordo com o delegado, motivou diversas mortes em Valéria. "No dia
seguinte, já houve uma execução. Porque Léo era o [linha de] frente. Léo
ordenadava e executava. Depois de sua prisão, Yuri, que já tinha sua
importância, também passou a orquestrar. Para eles, há uma delação por parte
dos moradores. Uma coisa de imaginação deles, que acreditam que se a polícia
chega e prende é porque tem o dedo de moradores inocentes, coisa que é
imaginária", explicou.
Léo assumiu o comando
do tráfico na região de Valéria após morte de Anderson dos Santos, conhecido
como Bigó, em outubro de 2016. Bigó foi apontado pela Polícia Civil como autor
do homicídio do sargento reformado Eduardo Henrique Bispo dos Santos, 59, em
setembro do mesmo ano.
Valéria dominada
Conforme o
subcomandante da 31ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Valéria),
capitão Márcil Gentil, a Katiara tem praticamente todo domínio dos bairros de
Valéria, Palestina e região da Lagoa da Paixão.
"Eles não têm
concorrência. Primeiro porque todo mundo teme eles. São bastante cruéis. Há uns
quatro anos, mais ou menos, eles já nos 'entregaram' a cabeça de uma pessoa em
um poste", comentou o major.
Gentil afirmou,
ainda, que a Katiara já chegou a expulsar famílias inteiras de um conjunto habitacional
localizado na Lagoa da Paixão. "Lá, eles circulavam e traficavam
tranquilamente. As últimas operações [da PM] inibiram um pouco essa prática,
mas ainda existe forte no conjunto", esclareceu o major, acrescentando que
os traficantes costumam matar pessoas aleatórias.
Além destas regiões,
de acordo com Márcio Gentil, a quadrilha está presente também no Recôncavo
Baiano, onde costuma alugar fuzis para quadrilhas de assaltos a bancos. Segundo
o major, a região foi escolhida por ser de conhecimento Adilson Souza Lima, o
Roceirinho - apontado como criador da Katiara -, que se criou Nazaré.
"Eles agem
sempre em grupo e têm um grande arsenal. São fuzis, pistolas e outros
armamentos de grosso calibre. Este negócio possibilita que eles se organizem a
ponto de financiar o tratamento e até translado de membros feridos em
confrontos".
A maioria dos
integrantes, ainda conforme Gentil, são jovens da própria comunidade. "Por
isso, é muito difícil prender eles. Quanto mais meninos forem envolvidos, mais
informações eles têm das ações da polícia nas localidades. Costumam esconder as
armas nos matos, e até ficar lá por dias".
As prisões de Léo
Barata e E.T, segundo a polícia, enfraquece a Katiara. "As mortes de Bigó
e Guinho também foram baques para eles, agora, apenas um dos linhas de frente
segue foragido", afirmou major Gentil, fazendo referência a um traficante
identificado como Marcelo, o Desenho, que assumiu o posto do seu antecessor,
Robson Luiz Gomes Lima, 32 anos, o Robin, encontrado morto com tiros em maio
deste ano, na cidade de Pedrão, no Centro-Norte baiano. As filhas do
traficante, de 1 e 5 anos, que estavam com os pais no momento do crime, seguem
desaparecidas.(correio24horas)
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