A Organização Mundial
da Saúde (OMS) define depressão como um transtorno mental caracterizado por
tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos
de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. O quadro
também costuma trazer sensação de cansaço e falta de concentração. A doença
pode ser de longa duração ou recorrente. Na sua forma mais grave, pode levar ao
suicídio. Casos de depressão leve podem ser tratados sem medicamentos e com
terapia. Mas, na forma moderada ou grave, pode haver indicação de medicação.
Quanto mais cedo se reconhece os sintomas e se começa o tratamento, melhores
são os resultados.
A depressão é uma das
doenças mentais e neurológicas que atingem aproximadamente 700 milhões de
pessoas no mundo, segundo a OMS. Isso representa um terço do total de casos de
doenças não transmissíveis. De acordo com o IBGE, a depressão afeta cerca de 11
milhões de pessoas no Brasil.
Pelo menos um terço
dos portadores de problemas mentais e neurológicos, como a depressão, não tem
acompanhamento médico, de acordo com o Plano de Ação para a Saúde Mental
2013-2020, trabalho desenvolvido pela OMS. Por isso, a informação e o
reconhecimento dos sintomas são os primeiros passos para a descoberta da doença
e a busca por tratamento. A OMS
considera a saúde mental como um dos pilares da saúde e da qualidade de vida.
Mas ainda há um longo caminho a se percorrer.
Existem inúmeras
questões a serem resolvidas, como a negligência dos serviços e cuidados de
saúde mental. E até violações dos direitos humanos e da discriminação das
pessoas com deficiências mentais e psicológicas.
Por isso, em 2013, a
Assembleia Mundial da Saúde aprovou o Comprehensive Mental Health Action Plan
for 2013-2020.
Trata-se de um
compromisso de todos os Estados-Membros da OMS na tomada de medidas específicas
para melhorar a saúde mental e contribuir para a realização de um conjunto de
metas globais.
O objetivo é promover
o bem-estar mental, prevenir transtornos mentais, fornecer cuidados, aprimorar a
recuperação, promover direitos humanos e reduzir a mortalidade e morbidade para
pessoas com transtornos mentais.
Para isso, os
pesquisadores acreditam que é necessário se concentrar em:
Reforçar a liderança
eficaz e a governança para saúde mental.
Prestar serviços
abrangentes, integrados e responsivos de saúde mental e serviços de assistência
social em configurações de bases comunitárias.
Implementar
estratégias de promoção e prevenção.
Fortalecer sistemas
de informação, evidência e pesquisa sobre saúde mental. No Plano de Ação, é dada ênfase especial à
proteção de direitos humanos, o fortalecimento e empoderamento da sociedade
civil para o lugar central da atenção de base comunitária. E esse trabalho
propõe e exige ações claras para governos, parceiros internacionais e OMS.
A implementação do
Plano de Ação visa permitir às pessoas com transtornos mentais a:
Acessar serviços de
saúde mental e assistência social com mais facilidade.
Receber tratamento de
profissionais de saúde devidamente qualificados em ambientes de cuidados de
saúde geral.
Participar da
reorganização, entrega e avaliação dos serviços, de modo que o cuidado e o
tratamento se tornem mais sensíveis às suas necessidades.
Ter maior acesso aos
benefícios dos governos por incapacidade, programas habitacionais e de
subsistência e uma melhor participação no trabalho e na vida em comunidade,
além de assuntos cívicos.
“Este plano de ação
abrangente reconhece o papel essencial da saúde mental para se alcançar a saúde
como um todo. Ele está focado a partir do ponto de vista de todo o ciclo de
vida, que pretende alcançar a equidade através de uma cobertura de saúde
universal, e enfatiza a importância da prevenção. Embora os objetivos deste
trabalho sejam ambiciosos, a OMS e seus Estados-Membros estão empenhados em
aplicá-lo”, diz a Dra. Margaret Chan diretora-geral da OMS. Não são apenas atributos individuais como a
capacidade de gerenciar pensamentos, emoções, comportamentos e interações com
os outros que influenciam doenças como a depressão. Também atributos sociais,
culturais, econômicos, políticos e ambientais. Fatores como políticas
nacionais, proteção social, padrões de vida, condições de trabalho e apoio
social comunitário estão envolvidos com a questão da saúde mental.
Dependendo do
contexto local, certos indivíduos e grupos na sociedade podem ser colocados em
um risco significativamente maior de experimentar problemas de saúde mental,
como a depressão. Alguns exemplos: pessoas com condições de saúde crônicas,
crianças expostas a maus-tratos e ao uso de substâncias. E também grupos
minoritários, populações indígenas, pessoas idosas, homossexuais, bissexuais e
transsexuais, prisioneiros, pessoas expostas a conflitos. Desastres ou outras
emergências humanitárias também afetam a saúde mental, bem como a crise
financeira global. Excesso de trabalho e estresse são uma preocupação
crescente, especialmente para a saúde das mulheres.
Outras doenças
envolvidas
Mais: os distúrbios
mentais muitas vezes também afetam e são afetados por outras doenças como
câncer, doenças cardiovasculares e Aids. E, como tal, requerem serviços comuns
e esforços de mobilização de recursos. Por exemplo: há evidências de que a
depressão predispõe as pessoas ao enfarte do miocárdio e ao diabetes, as quais,
inversamente, aumentam a depressão.
Pessoas com
transtornos mentais experimentam taxas desproporcionalmente maiores de
incapacidade e mortalidade.
E como em qualquer
batalha, é importante conhecer o oponente. Por isso a Vittude preparou um
especial sobre o assunto, com a consultoria das psicólogas Ana Paula Gonçalves
Donate, de São Paulo, e Luciana Faria, do Rio de Janeiro, parceiras da Vittude.
A seguir, tire suas dúvidas!
Como diferenciar
tristeza de depressão?
Existe diferença
entre depressão e tristeza e um psicólogo vittude pode ajudar na orientação
Homem triste em
momento de reflexão
É esperado que uma
pessoa se sinta triste depois da morte de um ente querido ou quando rompe um
relacionamento. A tristeza faz parte da vida e é uma emoção que precisa ser
vivida. A depressão pode ter início sem especificação ou após uma situação
vivida, por exemplo, a perda de um ente querido. Mas é importante lembrar que
depressão é muito mais que uma tristeza. É um conjunto de sintomas físicos,
emocionais e cognitivos que corroboram para que o quadro permaneça e/ou se
agrave ao longo do tempo. Os sintomas depressivos permanecem ao longo de um
período de tempo, seis meses ou mais, além de atender alguns critérios.
Quais os principais
sintomas de depressão?
Os sintomas físicos
mais comuns são fadiga frequente e constante, insônia e dificuldades na
qualidade do sono. A pessoa não consegue ter um sono profundo, do tipo REM. O
inverso – problema conhecido como hipersonia –, que é sono excessivo e
constante, também pode acontecer. Ainda podem ocorrer perda ou aumento de
apetite, diminuição da libido e incapacidade de sentir prazer em várias esferas
da vida. “Em casos severos, vêm à tona sintomas como a tendência a permanecer
deitado da cama durante todo o dia, alterações na fala – como a sua diminuição,
redução da voz, lentificação ou até mesmo o mutismo – e recusa alimentar”,
explica Luciana Faria.
Os sintomas
emocionais mais característicos são tristeza, melancolia, choro constante,
indiferença (“tanto faz como tanto fez”), dificuldade de ter sentimentos sobre
diferentes esferas da vida. “Por outro lado, também podem surgir alta
irritabilidade, ansiedade, angústia, desespero e desesperança”, completa a
psicóloga. Até os pensamentos sofrem alterações. “Desde baixa autoestima,
sentir-se incapaz, vergonha de si, auto-depreciação, culpa, dificuldades de
concentração e tomadas de decisões, leve piora da memória, até desvalorização
da vida, podendo atingir ideação, planos ou atos suicidas”.
teste-depressão
Se alguém da minha
família teve depressão, corro risco?
“Estudos científicos
mostram que existe uma relação genética importante na depressão, indicando que
pessoas com familiar ou gêmeo depressivo podem ter depressão”, responde a
psicóloga Ana Paula Donate.
Quais os riscos da
depressão não tratada?
A depressão não
tratada é como qualquer outro problema de saúde que não teve a devida atenção.
“Imagine uma alergia que você não trata. Ou diabetes. Elas podem se agravar. A
depressão não tratada pode passar ou cessar por um tempo. Mas uma pessoa que
teve um episódio depressivo uma vez na vida tem chances de tê-lo novamente em
algum outro momento”, alerta Ana Paula.
Depressão precisa ser
tratada com remédio?
Antidepressivos são
indicados no tratamento de depressão grave
Antidepressivos só
devem ser utilizados como último recurso e apenas para os mais severamente
deprimidos
Depende. “Na terapia
cognitivo-comportamental, nós, terapeutas, costumamos iniciar o tratamento sem
a medicação – caso o paciente não tenha passado por um psiquiatra que a tenha recomendado. Se for identificada a
necessidade, indicamos tratamento medicamentoso coadjuvante, sugerindo ao
paciente a visita a um psiquiatra para avaliar o caso”, explica Ana Paula.
Terapia faz parte do
tratamento?
Sim. A terapia
cognitivo-comportamental faz parte do tratamento da depressão. E, ao que tudo
indica, é uma das grandes chaves para a melhora do indivíduo. Essa abordagem
terapêutica tem ferramentas específicas e testadas em estudos científicos
apontando para eficácia no tratamento. “Acreditamos que os pacientes têm visões
muito negativas de si mesmo, do mundo e do futuro. E tal visão faz com que ele
selecione ainda mais informações do ambiente que ‘confirmem’ essas ideias. A
terapia cognitivo-comportamental atua tanto na visão desses três aspectos,
quanto na resolução dos problemas que existem diante dos fatos cotidianos,
corroborando para que o paciente tenha uma vida que faça sentido”, diz Ana
Paula. Segundo a psicóloga, a terapia cognitivo-comportamental é diferente das
outras porque o paciente e o terapeuta trabalham juntos, em colaboração, para a
melhora do quadro depressivo ou quaisquer outros problemas que surgirem pelo
caminho. O tratamento dura, em média, um ano.
Depressão tem cura?
Mulher sentindo-se
leve e feliz. A terapia ajuda no processo de aumento da autoestima.
Um processo
psicoterapeutico ajuda no aumento da autoestima
A depressão é uma
doença que pode ser muito grave, levando pessoas com intenso sofrimento à
tentativas de terminar com a própria vida. Segundo a OMS, do ponto de vista do
indivíduo com doença mental, recuperação significa ganhar e manter esperança,
compreender suas habilidades e incapacidades, engajar-se em uma vida ativa, com
autonomia pessoal, identidade social, significado e propósito e senso positivo
de si mesmo. A recuperação, no entanto, não é sinônimo de cura. “A terapia
cognitivo-comportamental tem se mostrado um tratamento altamente eficaz para
pessoas com intenso sofrimento depressivo”, finaliza Ana.
Entenda os
significados
O Plano de Ação para
Saúde Mental 2013-2020, da OMS, traz um glossário de termos que ajuda a
entender todos as questões envolvidas na saúde.
Saúde mental: estado
de bem-estar no qual o indivíduo percebe suas próprias capacidades, pode lidar
com o estresse normal da vida, trabalhar de forma produtiva e é capaz de
contribuir para sua comunidade.
Transtornos mentais:
incluem uma ampla gama de problemas, com diferentes sintomas. Geralmente são
caracterizados por combinação de pensamentos anormais, emoções, comportamento e
relacionamentos com os outros.
Invalidez: é um termo
genérico para deficiências, limitações de atividade e restrições de
participação. Denota os aspectos negativos da interação entre um indivíduo (com
uma condição de saúde) e os fatores contextuais (fatores ambientais e
pessoais).
Política e plano de
saúde mental: declaração de um governo que define a visão e reúne o conjunto de
valores, princípios, objetivos e áreas de ação para melhorar a saúde mental de
uma população. Um plano de saúde mental detalha as estratégias, atividades,
prazos e orçamentos que serão implementados para realizar a visão e alcançar os
objetivos. Também traz os resultados esperados, metas e indicadores que podem
ser usados para avaliar se a implementação foi bem sucedida.
Serviços de saúde
mental: são os meios pelos quais são prestadas intervenções eficazes para a
saúde mental. A forma como estes serviços são organizados tem uma influência
importante sobre a sua eficácia. Incluem instalações ambulatoriais, instalações
de tratamento de saúde mental, enfermarias psiquiátricas em um hospital geral.
Além de equipes comunitárias de saúde, moradias apoiadas na comunidade e
hospitais de saúde mental.
Ana Paula Gonçalves
Donate é psicóloga e terapeuta cognitivo-comportamental, de São Paulo. Atende
crianças, adolescentes e adultos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário