A Jovem Guarda foi um
movimento cultural brasileiro surgido em meados da década de 1960, que mesclava
música, comportamento e moda.
Surgida em agosto de
1965, a partir de um programa televisivo exibido pela TV Record, em São Paulo,
apresentado pelo cantor e compositor Roberto Carlos, conjuntamente com o também
cantor e compositor Erasmo Carlos e da cantora Wanderléa, a Jovem Guarda deu
origem a toda uma nova linguagem musical e comportamental no Brasil. Sua
alegria e descontração transformaram-na em um dos maiores fenômenos nacionais
do século XX.
Sua principal
influência era o rock and roll do final da década de 1950 e início dos 1960 e o
soul da Motown.[1] Grande parte de suas letras tinham temáticas amorosas,
adolescentes e açucaradas - algumas das quais, versões de hits do rock
britânico e norte-americanos da época.
Por essa inspiração,
a Jovem Guarda tornou-se o primeiro movimento musical no país que pôs a música
brasileira em sintonia com o fenômeno internacional do rock da época,
catalisado especialmente pelos Beatles.
Além de Roberto,
Erasmo e Wanderléa, destacaram-se no movimento artistas como Ronnie Von,
Eduardo Araújo e Sylvinha Araújo, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Martinha,
Vanusa, Rossini Pinto, Leno e Lílian, Evinha (Trio Esperança), Deny e Dino,
Paulo Sérgio, Dick Danello, Reginaldo Rossi, Sérgio Reis, Antônio Marcos,
Márcio Greyck, Kátia Cilene, Sérgio Murilo, Waldirene, Arthurzinho, Ed Wilson,
Ronnie Cord, Jorge Ben Jor, Tim Maia, Bobby de Carlo, George Freedman, além de
bandas como Golden Boys, Renato e Seus Blue Caps, Lafayette e seu Conjunto, Os
Incríveis, Os Vips, Os Jovens, The Pops e The Fevers.
Fenômeno midiático
que arrastou multidões, também designado como iê-iê-iê, em alusão direta à
expressão yeah-yeah-yeah presente em sucessos dos Beatles, a Jovem Guarda era
vista com restrições por setores da crítica, uma vez que sua música era
considerada alienada pelo público engajado, mais afeito, primeiro à bossa nova
e, depois, às canções de protesto dos festivais. Origens[editar | editar código-fonte]
O programa
"Jovem Guarda" foi uma criação da agência de propaganda Magaldi, Maia
e Prosperi para a grade de programação da TV Record. A demanda veio com a
proibição das transmissões ao vivo das partidas de futebol aos domingos.
Os idealizadores do
programa inspiraram-se em uma frase do revolucionário russo Vladimir Lenin,
onde dizia "O futuro pertence à jovem guarda porque a velha está
ultrapassada".[2] Eles vincularam a expressão com a imagem dos então
emergentes cantores Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.[3][4]
Auge e fim[editar |
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Roberto Carlos,
principal ídolo da Jovem Guarda.
Amparado por gravadoras
e campanhas publicitárias, rapidamente o movimento repercutiu em termos de
vantagens e de popularização dos seus ídolos. Fenômeno de audiência, o programa
de auditório levava ao Teatro Record centenas de jovens, atraídos pelos trio
Roberto-Erasmo-Wanderléa, além de artistas convidados. No ápice da sua
popularidade, chegou a atingir 3 milhões de espectadores só em São Paulo - fora
as cidades para onde chegava em videotape, como as capitais Rio de Janeiro,
Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.[4]
Mais do que um
fenômeno televisivo, a Jovem Guarda impulsionou o lançamento de discos, roupas
e diversos acessórios. Todo um comportamento jovem daquele período foi
formatado a partir do programa e seus apresentadores. O modo de se vestir
(calças colantes de duas cores em formato boca-de-sino, cintos e botinhas
coloridas, minissaia com botas de cano alto) bem como as gírias e expressões
("broto", "carango", "legal", "coroa",
"barra limpa", "lelé da cuca", "mancada",
"pão", "papo firme", "maninha",
"pinta", "pra frente", e a clássica "é uma brasa,
mora?") viraram referência para muitos adolescentes do período.
No final de 1968,
Roberto Carlos deixou o programa de auditório. Sem seu principal ídolo, a TV
Record retirou o programa do ar. Desta maneira, o movimento como um todo perdeu
força, até que desapareceu no final da década de 1960. Legado[editar | editar código-fonte]
Com o fim do
movimento, os artistas da Jovem Guarda tomaram três caminhos distintos a partir
da década de 1970. Enquanto alguns de seus artistas mantiveram-se identificados
com o rock (Os Incríveis, Eduardo Araujo, Erasmo Carlos) e outros se mudaram
para a música sertaneja (como Sérgio Reis), a grande maioria deles enveredou-se
para a música romântica, de forte apelo popular. Foram os casos de Roberto
Carlos, Wanderley Cardoso, Jerry Adriani, Ronnie Von e Reginaldo Rossi (líder,
durante a Jovem Guarda, da banda The Silver Jets).
As estética Jovem
Guarda, especialmente suas baladas, tiveram grande influência sobre uma nova
geração de artistas da música popular brasileira a partir da década de 1970,
como Odair José, Diana, em uma vertente que acabou sendo tachada por críticos
de "música cafona".
Antes disso, a Jovem
Guarda foi a principal responsável pela introdução da guitarra elétrica e do
órgão Hammond por Lafayette em gravações de Roberto Carlos, Erasmo Carlos,
Wanderléa e a maioria dos artistas da Jovem Guarda, em seus discos com solo se
Orgão e também nos bailes com seu conjunto. Na música do Brasil, que acabou
incorporada definitivamente com a Tropicália.
Críticas[editar |
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A Jovem Guarda foi
diversas vezes acusada de se manter afastada das discussões políticas que
sacudiam o Brasil durante os primeiros anos da ditadura militar no país. Era
considerada música alienada pelo público engajado e setores da crítica mais
afeitos a, primeiramente, à bossa nova e, depois, às canções de protesto dos
festivais da emergente MPB.
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