Se o turismo tivesse como foco conhecer a alma das cidades, o maior ponto turístico de Salvador, sem dúvida alguma, seria a Estação da Lapa, que neste mês completou 40 anos de inauguração e início das operações. Mas o curioso é que, embora atualmente não tenha o status de área turística, a edição do Correio da Bahia de 8 de novembro de 1982 não descartou que o terminal terminasse um dia sendo local de visitação para quem quisesse, de fato, conhecer a essência da capital dos baianos.
“A Estação da Lapa, esta obra que os baianos já começaram a admirar, passa a ser agora o novo coração da cidade e seu cartão postal”, anunciava um trecho da reportagem intitulada ‘Lapa: o novo coração da cidade’.
A construção do equipamento durou pouco mais de um ano e tinha a perspectiva de “servir a 94 por cento da população de Salvador e modificar inteiramente os hábitos dos usuários de transporte coletivo da cidade”. Essa mudança foi iniciada numa quinta-feira, dia 18, quando a estação começou a operar com apenas cinco linhas.
“Os primeiros ônibus começaram a chegar à Estação da Lapa às cinco horas e até o meio-dia o movimento maior foi dos passageiros que vinham dos bairros, embora algumas linhas como Luis Anselmo e Mata Escura apresentassem um fluxo muito grande durante todo o dia. Além de Luis Anselmo e Mata Escura, estão funcionando as linhas de Boa Vista do Lobato, Marechal Rondon e Pau Miúdo. Em dezembro deverão estar funcionando na Lapa as 52 linhas programadas para aquele terminal”, explica o texto do dia em que o equipamento começou a receber veículos e, principalmente, gente.
A reportagem do dia 19 de novembro trazia como título ‘População de Salvador recebeu bem a estação’. O texto destacava que o funcionamento do terminal foi “inteiramente normal no seu primeiro dia” e que a reação dos passageiros “correspondeu às expectativas, apesar de alguns problemas causados pela falta de informação de alguns deles, principalmente quanto ao uso das escadas rolantes.”
Novidade naquela época, as escadas rolantes atrapalharam alguns usuários, e a Prefeitura foi obrigada a colocar prepostos para explicar o modo de usar, ou melhor, o passo a passo para passar por elas. “Um grande grupo de funcionários da Prefeitura trabalha nos três pisos da estação, prestando informações aos usuários, tanto em relação às direções a seguir para atingir as saídas como na área interna do prédio. Junto às escadas rolantes também foram colocadas pessoas para ajudar àqueles que não sabem usar o equipamento”, comenta o texto.
Tratava-se de “um conjunto de onze modernas escadas rolantes semelhantes às que estão instaladas nas estações de metrô do Rio de Janeiro e São Paulo”.
Mas a surpresa de muitos não ficou restrita às escadas que ‘caminhavam’ para os usuários. A própria chegada à estação pegou muitos passageiros de surpresa: “Ao desembarcarem, muitos ainda não sabiam que o ônibus estava indo para a Estação da Lapa e saltavam curiosos olhando muito para os lados, mas, a partir das informações dos funcionários, caminhavam rapidamente para as escadas rolantes que dão acesso às ruas Coqueiros da Piedade, Carneiro Ribeiro ou 24 de Fevereiro”. Vale destacar que o Shopping Piedade, que tem uma ligação direta com a estação, só seria construído em 1985.
Inaugurada por Renan Baleeiro, prefeito da época, com apoio do então governador Antonio Carlos Magalhães, a Estação Clériston Andrade – nome oficial dado em homenagem ao candidato à sucessão no Palácio de Ondina, morto de forma trágica durante a campanha na queda de um helicóptero, um mês antes – nasceu como “o maior terminal de transportes urbanos da América do Sul.”
“Está capacitada a operar 200 ônibus simultaneamente, correspondendo a 25 mil passageiros por hora, podendo chegar a 30 mil”, dizia um texto, enquanto outro dimensionava o uso de materiais para erguê-la: “As 7.600 toneladas de cimento utilizadas na sua construção dariam para construir um prédio de 200 andares com três apartamentos de três quartos.”
O equipamento começou funcionando das 5h à meia-noite, mas passaria depois a operar 24 horas por dia. “Isso já acontecerá em dezembro, antes do Natal. Nesse período também deverão começar a sair da Lapa ônibus circulares, que ligarão a Lapa às outras estações de transbordo de Salvador, como a Praça da Sé, Aquidabã, Campo Grande, Calçada e Terminal da França”, explicava uma reportagem.
Mas a grande mudança mesmo ocorreu em relação ao Centro Histórico, já que o terminal tirou a maior parte dos veículos grandes da região, especialmente na Praça da Sé, onde havia um terminal maior que o atual ao lado da Catedral Basílica. “Esta obra, absolutamente necessária à preservação do centro histórico de Salvador, custou 3 bilhões de cruzeiros. (...) Livres dos engarrafamentos do centro, os ônibus vão circular mais racionalmente, melhorando a oferta de viagens, reduzindo o tempo de percursos”. Quarentona, a Lapa continua pulsando como um coração, circulando por ela o que Salvador tem melhor: seu povo.
CORREIO
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