Pouco se tem falado
sobre um vírus que não é recente, mas que vem atingindo uma parcela da
população. O HTLV, que faz parte da família do HIV, vírus causador da AIDS,
atinge as células de defesa do organismo. Diferente do HIV, que diminui a
produção de células de defesa, o HTLV aumenta a produção de linfócitos T,
podendo causar o aumento de doenças graves como câncer, doença com alta taxa de
letalidade. O vírus é classificado em dois grupos: HTLV-I e HTVL-II, o primeiro
caso está associado a doenças neurológicas graves e degenerativas e o segundo
caso ainda não está ligado a nenhum tipo de patologia determinada.
Uma pesquisa
realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgada neste ano após análise
de testes realizados no Laboratório Central de Saúde Público (Lacen), entre
2003 e 2014, mostrou que a Bahia é o estado com o maior número de casos do
vírus no Brasil.
Segundo a Secretaria
da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) os maiores índices de contágio são em
pessoas pardas com idades entre 35 a 54 anos. Quando se comparado os dados
entre 2017 e 2018 é possível notar uma queda nos casos da doença, quando foram
contabilizados 712 e 693 registros, respectivamente. Até maio deste ano, a
Bahia já contabilizou 206 casos. Ainda conforme a Sesab, levando-se em
consideração os índices entre 2017 até maio de 2019, as cidades com maior
incidência do vírus foram Salvador (797), Feira de Santana (112), Vitória da
Conquista (76) e Itabuna (36), em números totais.
Apoio
Na capital baiana
existe uma associação que acolhe as pessoas que convivem com HTLV na Bahia. O
HTLVIDA é uma instituição criada para dar apoio aos portadores da doença. O
projeto foi iniciado em 2010 pelo infectologista e coordenador do Centro de
Neurociências da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, Bernardo Galvão. O
centro foi criado após ser notada a necessidade de apoiar os pacientes e dar
visibilidade ao vírus, levando políticas para atender as necessidades dos
portadores da doença.
Em conversa com o
Varela Notícias, a ex-presidente da associação e atual secretária do local,
Adijeane Oliveira de Jesus, 34 anos, contou que descobriu a doença aos 14 anos.
De acordo com ela, o HTLV foi transmitido pelo pai, que descobriu ser portador
do vírus após uma tentativa de doação de sangue a um amigo. Além deles, duas
irmãs e um irmão dela também foram contaminados. Recentemente o irmão de
Adijeane faleceu por conta de Leucemia linfocítica causada pelo HTLV. “Quando
descobri a doença os médicos diziam que para ter algum sintoma era um em um
milhão, eu nem me preocupava com isso”, afirmou.
Aos 23 anos a
portadora começou a ter os primeiros sintomas. Quedas, dificuldade para andar,
incontinência urinaria, que causava infecções, além de casos mais agressivos
como depressão. A doença é progressiva, não tem cura e nem vacina, existem
tratamentos paliativos, como a fisioterapia, que ajudam no dia a dia de pessoas
como Adijeane a se sentirem mais dispostas. “Minha situação atual é complicada,
pois tenho muitas limitações físicas, até para sair tem vezes que preciso de
alguém”, desabafou.
O atual presidente da
Associação, Francisco Daltro Borges, 65, também é portador do vírus e contou
sobre as dificuldades que passou durante a infância. “Desde criança eu caía
muito e sentia fraqueza a todo o momento, ao procurar por médicos eu descobrir
uma esclerose, mas nada sobre HTLV foi dito. No ano de 2001, minha mulher foi
doar sangue e descobriu que tinha a doença, eu fiz o exame e tinha também, tudo
fez sentido para mim, minha mãe também fez e deu positivo. Apesar dela ter eu
fui o único filho a ser portador”, alegou.
Para pacientes como
Adijeane e Francisco locais de apoio e acolhimento fazem toda a diferença na
rotina tanto para tratamentos quanto para o bem estar. “Pessoas com HTLV são
esquecidas e negligências, eu tenho a associação e ela que me da um sentido
para viver”, desabafou o presidente.
VN
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