Pela septuagésima vez
no Carnaval de Salvador, neste domingo, 03, os Filhos de Gandhy desfilaram
pelas ruas do centro histórico e levaram para a folia uma mensagem de paz e
resistência. Em 2019 o tradicional ‘tapete branco’ foi formado por cerca de
5.000 integrantes do afoxé. Entre eles, alguns que acompanharam de perto tudo
que aconteceu nesses 70 anos de história.
“Temos a honra de
representar a paz, de ser sempre motivo de alegria nessa festa que é o
carnaval. Aconteça o que for, o Gandhy é sempre sinônimo de coisa boa. Somos sinal de respeito , de representação
social”, conta Raimundo Jesus dos Santos, de 66 anos, que desfila pelo afoxé há
mais de trinta anos.
Os Filhos de Gandhy
saíram às ruas de Salvador pela primeira vez em 1949, a partir do empenho de um
grupo de estivadores portuários da capital baiana, que queriam fazer uma
homenagem ao líder indiano Mahatma Gandhi, assassinado no ano anterior.
O ‘look’ escolhido
para celebrar o 70º aniversário gerou polêmica entre os Filhos de Gandhy. A
tradicional roupagem azul e branca, em referência a Oxalá e Ogum, ganhou a
companhia do amarelo, que teve bastante destaque no “manto sagrado”, como
chamam os foliões que desfilam no afoxé.
“Isso aqui é uma
afronta à história do Gandhy. Se eu soubesse que seria assim, não teria
participado esse ano. Somos feitos por tradições, mas querem acabar com ela.
Daqui a pouco você vai ver Ghandy de abada, como se fosse um bloco”, contou o
aposentado Osvaldo Santos Silva, de 55 anos, e que há dez desfila nos Filhos de
Gandhy.
Gilsonei Oliveira,
presidente dos Filhos de Gandhy, defendeu a fantasia de 2019 e lembrou que
estar no centro de polêmicas é uma característica do afoxé. “Quando começou, o
Ghandy não tinha nem turbante. Era só uma roupa branca, sem pintura nenhuma. Na
década de 70 entrou o azul e reclamaram. Depois teve problema quando
acrescentaram os cordões. A mesma coisa com a entrada do trio elétrico, que
antes não tinha. O novo sempre causa impacto, e apostar no novo também faz
parte da história dos Filhos de Gandhy.
Ainda de acordo com a
diretoria, a fantasia deste ano faz alusão a uma imagem de Pierre Verger,
fotógrafo francês radicado na Bahia. Entre os foliões, também houve quem
aprovasse o amarelo. “Gostei porque quebra as pessoas que tentam sair com a
fantasia do ano passado. Fazem muito isso, mas esse ano só vai sair quem
comprou a fantasia de 2019”, argumentou o cozinheiro Dijalma Moraes, de 36
anos.
O afoxé
O desfile do primeiro
dia do afoxé, começou com o tradicional ‘padê’, cerimônia para pedir licença e
proteção ao orixá Exu. Para um folião de primeira viagem, o ritual já deixa
explícito toda religiosidade que reverbera nos Filhos de Gandhy.
“Quem olha de fora
marca muito aquela tradição do colar de beijo, mas aqui dentro é outra
história. Essa saída do Gandhy é tudo. É muita paz, muita harmonia, muito axé”,
afirmou Jorge Rodrigo da Silva, que aos 44 anos, saia pela primeira vez no
afoxé.
Além da parte religiosa,
o que marcou a saída dos Filhos de Gandhy foi o atraso de cerca de uma hora e
meia. Apenas por volta das 17h30 os foliões deixaram a Rua Chile, onde estava o
trio elétrico e a pomba branca que lidera o desfile.
Assim, reforçado por
tons de amarelo, amanhã o ‘tapete branco’ da paz desfila pelas ruas do circuito
Dodô (Barra / Ondina), com saída prevista para às 16h30. Na terça-feira, o
afoxé retorna para o centro na cidade e encerra sua participação no Carnaval
2019 no circuito Osmar (Campo Grande), a partir da Rua Chile.
A TARDE
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