Em 2019, a fantasia
do Gandhy veio com um detalhe especial, ideia do artista plástico e
carnavalesco Alberto Pitta: tons em dourado para celebrar a longa trajetória e
a cor do bloco Badauê, em homenagem à memória do capoeirista, educador social e
fundador da entidade Moa do Katendê, morto em 2018.
O tema, “Êla Tempo”,
foi escolhido em respeito à ancestralidade e a todos os que contribuíram para a
evolução da instituição. Tempo que rege o caminhar, as decisões e o destino das
pessoas e permitiu que os Filhos de Gandhy chegassem ao dias de hoje como símbolo
de resistência.
O atual presidente,
Gilsoney de Oliveira, explica que a entidade vem prezando pela qualidade dos
integrantes – este ano, são 3 mil. “Buscamos associados que prezem pelas
tradições e costumes, que combatam qualquer tipo de assédio ou desrespeito.
Somos uma nação ecumênica, recebemos participantes de todas as religiões”.
Trajetória
A história do bloco
demonstra a luta, a força e a tradição do bloco mais antigo de Salvador em
atividade. Era o dia 18 de fevereiro de 1949 – uma sexta-feira – quando pouco
mais de 30 homens, estivadores do porto de Salvador, com lençóis brancos como
vestes, tranças de cebola na cabeça e tamancos nos pés, resolveram colocar um
bloco na rua. O nome do grupo foi uma forma de homenagear o líder religioso Mahatma
Gandhi, que havia morrido no ano anterior. Nascia, assim, o Filhos de Gandhy.
Mesmo em época de
falta de trabalho nos portos e política de arrocho salarial, gerados pela crise
do pós-guerra, o grupo foi criado como forma de resistência e vem seguindo firme
neste propósito ao longo dos anos. Da casa do estivador Aurélio, em Coutos, a
caminhada foi longa até chegar à sede própria no Pelourinho, doada em 1992 pelo
então governador Antônio Carlos Magalhães.
No início da década
de 1950, ocorreu a mudança da classificação de bloco para afoxé e foram
incorporados os destaques: lanceiros e fuzileiros (responsáveis por fiscalizar
e assegurar a ordem dentro do afoxé), o camelo maior e o elefante. Nos anos de
1974 e 1975, enfrentando problemas administrativos, a entidade não desfilou no
Carnaval, fato que foi um golpe muito duro para os associados e admiradores,
após 25 anos de desfiles ininterruptos.
Força
Depois das ausências
e sob o comando do novo presidente, o mestre Camafeu de Oxóssi, e com ajuda de
um Livro de Ouro, comumente utilizado para arrecadar fundos, saiu com um
modesto grupo de menos de 100 pessoas. Nos anos seguintes, personalidades
baianas como Gilberto Gil, Jorge Amado e o próprio ACM passaram a ajudar o
afoxé.
Em 1999, o grupo
criou o Centro Cultural Gandhy, com o objetivo de atender crianças,
adolescentes e seus familiares da comunidade do Centro Histórico. No local, é
promovido um trabalho socioeducativo e profissionalizante, que realiza atividades
culturais, esportivas e lazer, além de reforço escolar.
[[saiba_mais]
O grupo ganhou força
e visibilidade através dos anos e o tapete branco que encanta e emociona, luta
para manter a tradição de um verdadeiro candomblé de rua, protegido por Oxalá e
Ogum, representados nas cores branca e azul das vestes e colares. O Padê para
Exú antecede todas as saídas do grupo, pedindo proteção para o caminho do
desfile.
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